segunda-feira, 29 de junho de 2015

Deuses adormecidos

Como eram castigados os deuses gregos que contavam mentiras


Os deuses gregos estavam longe de ser modelos de virtude, ética ou moralidade. Eram briguentos, ciumentos, invejosos, armavam as maiores intrigas e não conheciam limites às perversões. Mas não podiam ser mentirosos. Jurar falso era, entre eles, crime gravíssimo, punido por Zeus Olímpico com grande severidade. 
A regra que proibia mentir valia para toda a multidão de divindades  do panteão grego, e não apenas para os mais famosos, até porque, ao longo dos séculos, os deuses, assim como os homens, sofreram variações de popularidade.
Conta-nos Hesíodo, em sua Teogonia, que Íris era encarregada por Zeus de trazer, em uma vasilha de ouro, a água gelada do juramento, sempre que alguma querela entre os imortais sugeria que um deles estava proferindo uma inverdade.
Ora, o que sucedia é que o mentiroso, ao derramar a água do juramento, era, no mesmo instante, acometido por um sono profundo, a tal ponto que deixava de respirar. Esse estranho fenômeno durava exatamente um ano. Néctar ou ambrosia? Nem pensar! O mentiroso estava de castigo.
Transcorrido um ano, o deus ou deusa acordava, mas, por longos nove anos, não podia conviver com as demais deidades, muito menos participar de seus formidáveis banquetes ou, ainda, dar palpites nas reuniões do Conselho do Olimpo. 
Ao décimo ano, porém, o suplício acabava, e o ex-mentiroso voltava a desfrutar das prerrogativas divinas.
Ora, senhores leitores, imaginem que alguma coisa semelhante ocorresse entre os mortais - em pouquíssimo tempo este planeta seria transformado em um vasto dormitório... Convenhamos que a água do juramento, com a qual Zeus era capaz de manter um mínimo de respeito em meio à algazarra do Olimpo, até que poderia ser útil para fins políticos se, por acaso, seu uso estivesse facultado aos humanos.
Por falar em mentira, alguém dos leitores já experimentou óleo de fígado de bacalhau? Eu não. Nunca. Mas todo mundo que eu conheço e que diz que, quando criança, era obrigado pelos pais a engolir tal coisa, afirma que tem sabor detestável, e não tenho nenhuma razão para crer que seja peta. Mas vejam só este anúncio que apareceu em uma edição (*) da revista paulistana A Cigarra, no ano de 1929:


"Em forma saborosa"? Não sei, não, mas acho que Zeus Olímpico não iria gostar.

(*) Primeira quinzena de junho de 1929, Ano XVI, nº 350

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