Os druidas tinham lugar de destaque entre os gauleses - foi César quem o afirmou, em De Bello Gallico. Eram uma espécie de camada sacerdotal, mas com vastas atribuições jurídicas.
Antes de mais nada, para ser druida, era preciso estudar, e estudar muito. Um verdadeiro druida passava, às vezes, mais de vinte anos na escola, e devia saber tudo de memória (César achava que isso atendia a dois propósitos: esconder seu conhecimento dos que não eram iniciados em suas artes mágicas e exercitar a memória da juventude). Apesar disso, não eram poucos os que buscavam essa ocupação, havendo quem a queria de livre escolha e quem era, pela família, encaminhado a ela.
Um aspecto curioso relacionado à formação dos druidas é que muitos deles (segundo César!) iam à Bretanha para ampliar seus conhecimentos. E o que é que ensinavam?
Sempre de acordo com o que César relatou, os druidas criam que as almas, sendo imortais, passavam de um corpo a outro, fato que incentivava os soldados à valentia no combate, já que, ao menos teoricamente, não deviam ter medo de morrer. Era tradição entre os druidas que as noites precediam os dias, de modo que seu calendário era regulado pelo número de noites e não de dias, e os meses e outros períodos sempre tinham início ao anoitecer. Investigavam e ensinavam sobre suas divindades, sobre geografia, sobre aves e animais, sobre os corpos celestes e seu movimento no espaço. À semelhança de muitos outros povos do passado, a nascente investigação científica dos gauleses vinha acompanhada de uma procissão de superstições.
Sendo muito respeitados, os druidas eram também reconhecidos como juízes em questões civis, de modo que anualmente, reuniam-se em lugar considerado sagrado, para mediar disputas de fronteiras, questões relacionadas à repartição de heranças, e mesmo quanto às sentenças na eventualidade de crimes, como assassinatos, por exemplo. Era tamanha a autoridade dos druidas que, aquele que se recusasse a obedecer às suas ordens, era virtualmente excluído da sociedade.
Naturalmente, para evitar porfias entre os próprios druidas (seria um terrível escândalo...), um deles era considerado líder supremo, sendo, quando morria, substituído por outro cuja autoridade e conhecimento fossem reconhecidos por todos. Senão... Senão, as informações de Júlio César nos dão conta de que a escolha podia ser feita por uma votação. Se, ainda assim, o caso não se resolvesse, a disputa podia chegar ao uso da força. Parece, no entanto, que isso não era frequente.
Além do respeito que tinham do povo das Gálias, os druidas, por seu caráter sacerdotal, alcançavam uma série de vantagens. Dentre elas, mencione-se que estavam isentos de impostos e desobrigados do serviço militar. Não era pouco.
A função de druida envolveria um aspecto terrível de suas crenças religiosas - sacrifícios humanos. César observou que, quando os gauleses pediam aos deuses a cura de uma pessoa doente ou ferida em combate, supunham que somente seriam atendidos se sacrificassem um outro ser humano. Ou seja, era uma vida pela outra. Criminosos eram sempre candidatos a esses sacrifícios, mas, na falta deles, uma pessoa em absoluto inocente podia ser "eleita" para morrer. Eventualmente, várias pessoas, colocadas dentro de representações ocas de deuses (feitas de juncos ou algo parecido) eram queimadas vivas. Ufa!...
A título de complemento, animais capturados nas guerras também eram sacrificados aos deuses.
Júlio César, enquanto comandou tropas romanas na Gália, teve oportunidade de conviver com líderes gauleses, de modo que, até certo ponto, pode-se confiar nas informações que deixou. Era, porém, um romano, e como romano é que interpretava o que observava. Estabeleceu, por exemplo, uma correspondência entre os clássicos deuses greco-romanos e as divindades gaulesas: Mercúrio seria o guia dos viajantes, Apolo responsável por curas, Minerva a padroeira dos artesãos, e assim por diante.
Não se pode menosprezar o fato de que algumas de suas opiniões eram filtradas pelos conceitos religiosos que ele mesmo tinha. Mandava cartas ao Senado romano, a fim de expor o andamento da guerra. Tinha todo o interesse em valorizar o inimigo, já que as vitórias soariam maiores aos distantes ouvidos senatoriais. César, afinal, era César, um político hábil e matreiro. Não devemos desconsiderar esses fatos quanto lemos os escritos que deixou. Se não fossem eles, todavia, saberíamos muito menos sobre a gente que, no primeiro século antes de Cristo, habitava as nevoentas florestas das Gálias.
Antes de mais nada, para ser druida, era preciso estudar, e estudar muito. Um verdadeiro druida passava, às vezes, mais de vinte anos na escola, e devia saber tudo de memória (César achava que isso atendia a dois propósitos: esconder seu conhecimento dos que não eram iniciados em suas artes mágicas e exercitar a memória da juventude). Apesar disso, não eram poucos os que buscavam essa ocupação, havendo quem a queria de livre escolha e quem era, pela família, encaminhado a ela.
Um aspecto curioso relacionado à formação dos druidas é que muitos deles (segundo César!) iam à Bretanha para ampliar seus conhecimentos. E o que é que ensinavam?
Sempre de acordo com o que César relatou, os druidas criam que as almas, sendo imortais, passavam de um corpo a outro, fato que incentivava os soldados à valentia no combate, já que, ao menos teoricamente, não deviam ter medo de morrer. Era tradição entre os druidas que as noites precediam os dias, de modo que seu calendário era regulado pelo número de noites e não de dias, e os meses e outros períodos sempre tinham início ao anoitecer. Investigavam e ensinavam sobre suas divindades, sobre geografia, sobre aves e animais, sobre os corpos celestes e seu movimento no espaço. À semelhança de muitos outros povos do passado, a nascente investigação científica dos gauleses vinha acompanhada de uma procissão de superstições.
Sendo muito respeitados, os druidas eram também reconhecidos como juízes em questões civis, de modo que anualmente, reuniam-se em lugar considerado sagrado, para mediar disputas de fronteiras, questões relacionadas à repartição de heranças, e mesmo quanto às sentenças na eventualidade de crimes, como assassinatos, por exemplo. Era tamanha a autoridade dos druidas que, aquele que se recusasse a obedecer às suas ordens, era virtualmente excluído da sociedade.
Naturalmente, para evitar porfias entre os próprios druidas (seria um terrível escândalo...), um deles era considerado líder supremo, sendo, quando morria, substituído por outro cuja autoridade e conhecimento fossem reconhecidos por todos. Senão... Senão, as informações de Júlio César nos dão conta de que a escolha podia ser feita por uma votação. Se, ainda assim, o caso não se resolvesse, a disputa podia chegar ao uso da força. Parece, no entanto, que isso não era frequente.
Além do respeito que tinham do povo das Gálias, os druidas, por seu caráter sacerdotal, alcançavam uma série de vantagens. Dentre elas, mencione-se que estavam isentos de impostos e desobrigados do serviço militar. Não era pouco.
A função de druida envolveria um aspecto terrível de suas crenças religiosas - sacrifícios humanos. César observou que, quando os gauleses pediam aos deuses a cura de uma pessoa doente ou ferida em combate, supunham que somente seriam atendidos se sacrificassem um outro ser humano. Ou seja, era uma vida pela outra. Criminosos eram sempre candidatos a esses sacrifícios, mas, na falta deles, uma pessoa em absoluto inocente podia ser "eleita" para morrer. Eventualmente, várias pessoas, colocadas dentro de representações ocas de deuses (feitas de juncos ou algo parecido) eram queimadas vivas. Ufa!...
A título de complemento, animais capturados nas guerras também eram sacrificados aos deuses.
Júlio César, enquanto comandou tropas romanas na Gália, teve oportunidade de conviver com líderes gauleses, de modo que, até certo ponto, pode-se confiar nas informações que deixou. Era, porém, um romano, e como romano é que interpretava o que observava. Estabeleceu, por exemplo, uma correspondência entre os clássicos deuses greco-romanos e as divindades gaulesas: Mercúrio seria o guia dos viajantes, Apolo responsável por curas, Minerva a padroeira dos artesãos, e assim por diante.
Não se pode menosprezar o fato de que algumas de suas opiniões eram filtradas pelos conceitos religiosos que ele mesmo tinha. Mandava cartas ao Senado romano, a fim de expor o andamento da guerra. Tinha todo o interesse em valorizar o inimigo, já que as vitórias soariam maiores aos distantes ouvidos senatoriais. César, afinal, era César, um político hábil e matreiro. Não devemos desconsiderar esses fatos quanto lemos os escritos que deixou. Se não fossem eles, todavia, saberíamos muito menos sobre a gente que, no primeiro século antes de Cristo, habitava as nevoentas florestas das Gálias.
Veja também:
Marta, quando penso em gaulês, associo automaticamente aos "irredutíveis gauleses" de uma pequena aldeia. Adivinhou? A aldeia do Astérix e do Obélix, pois claro, com o seu venerável druida também, de longas barbas brancas e poção mágica. Só a palavra druida já nos transporta para um imaginário de sabedoria, conhecimento, sobrenatural.
ResponderExcluirDesconhecia esse hábito de sacrificar vidas humanas, pensei que isso só era prática lá entre os maias.
Mas os seus posts costumam ser sobre a História do Brasil. Porque emigrou para a França? Estou curiosa.
Beijinhos
Ruthia d'O Berço do Mundo
Sacrifícios humanos eram mais ou menos frequentes entre povos do passado. No entanto, não dá para jogar pedras em maias e astecas já que, pela época em que espanhóis tiveram seus primeiros contatos com esses povos, a Inquisição (por razões diferentes, mas sempre ligadas à religião), vez por outra queimava alguém vivo, também.
ExcluirNão, o blog não migrou para a França. Se der uma olhada na lista de postagens, verá que há sempre alguma coisa da chamada História Geral, e não apenas do Brasil. Há duas razões para a ampliação dos textos de Geral: a primeira é que andei fazendo uma enquete entre leitores e percebi que há interesse por esses assuntos; já a segunda é atender pedidos de estudantes que precisam pesquisar esses temas e, quase sempre, só encontram informações de caráter geral. Assim, haverá mais textos sobre gregos, romanos, etc....................................
Fantástico. Os alunos é que saem a ganhar. Não, não estava a apedrejar maias e astecas. Até hoje muito gente maluca faz sacrifícios humanos em nome da religião, infelizmente....
ExcluirHahahahah... É claro que não imaginei que estava tentando apedrejar maias e astecas. Infelizmente vivemos em um planeta em que muita coisa ruim tem acontecido em nome de crenças religiosas. Nem todos entendem que a vida de seres humanos está acima de quaisquer partidarismos, sejam políticos, religiosos ou ambas as coisas. E, pra falar a verdade, não vejo perspectivas de mudanças.
Excluir