As distribuições gratuitas ou vendas a preço muito baixo de trigo eram, em Roma, uma prática a que governantes recorriam para evitar revoltas entre a população livre desocupada. Se quiserem, leitores, era parte da famosa política conhecida como "pão e circo", em que, ao lado do alimento, também eram oferecidos espetáculos públicos, quase sempre sangrentos, para que a fúria do populacho se voltasse contra animais e gladiadores, e não contra os que detinham o mando na poderosa Roma.
Contudo, essas práticas consumiam preciosos recursos do Estado. O crescimento da população da Península Itálica tornou a produção de grãos insuficiente para atender a todos. Por consequência, veio a ser indispensável a importação de alimentos. Vinha muito trigo do Egito, por exemplo, mas isso tinha um preço, que não era apenas monetário. Havia também a dependência. E se as colheitas no Egito não fossem boas? E se navios que traziam cereais se perdessem no Mediterrâneo? E se... Era uma situação delicada, e a possibilidade de escassez não era mera fantasia. Acontecia mesmo.
De acordo com Suetônio (¹), em certa ocasião em que houve falta de alimentos em Roma, Augusto tomou medidas drásticas, que incluíram até uma ordem para que estrangeiros (com exceção dos professores e dos médicos), os escravos disponíveis para venda e aqueles que viviam em escolas de gladiadores saíssem da cidade. A ideia era ter menos bocas para alimentar. Onde foram viver e de quê? Suetônio não explicou.
Mais tarde, quando as colheitas voltaram à normalidade, Augusto, no dizer de Suetônio, "considerou suprimir definitivamente as distribuições de trigo para a plebe às expensas do Estado, porque a população, já esperando por elas, abandonava o cultivo do solo" (²). Ao refletir, todavia, no custo político desse plano, acabou por abandoná-lo.
(1) 69 - 141 d.C.
(2) SUETÔNIO. De vita Caesarum, Livro II. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
Veja também:
"...considerou suprimir definitivamente as distribuições de trigo para a plebe às expensas do Estado, porque a população, já esperando por elas, abandonava o cultivo do solo."
ResponderExcluirPara além do trigo, assim era ontem, assim é hoje. E os políticos, com falta de sentido de estado, cedem à demagogia, deixando a resolução dos problemas para quem se segue. Que, obviamente, adopta a mesma postura.
(Será que ainda há milagres?)
É sempre um gosto passar por aqui. Fique bem, Marta.
É fácil perceber que, resguardadas as especificidades da época, alguns problemas tendem à repetição, a despeito de tempo e lugar. Daí a importância do estudo da História, que anda um tanto descuidado, ao menos no plano escolar (ainda que com exceções), deste lado do Atlântico.
ExcluirTenha um ótimo domingo. Obrigada por ler e comentar.