quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O Mediterrâneo foi uma via de fusão e irradiação de culturas na Antiguidade

No modo como jovens estudantes são, às vezes, apresentados aos povos da Antiguidade, pode-se ter a impressão de que egípcios, gregos, romanos, fenícios, hebreus, entre outros, viviam, cada um, em isolamento em relação aos demais. Teriam, portanto, cultura própria e exclusiva, quanto à língua, vestuário, escrita, religião, arquitetura, atividades econômicas e quase tudo quanto se possa imaginar. Ora, leitores, acontecia exatamente o contrário.
Embora o grau de intercâmbio entre os diferentes povos tenha variado de uma época para outra, pode-se, em linhas gerais, dizer que o mar Mediterrâneo foi, na Antiguidade, uma poderosa via de comunicação, que resultou em irradiação cultural e em fusão de ideias, a tal ponto que, para quem se dedica ao estudo dos povos estabelecidos ao seu redor, fica às vezes difícil determinar a origem de certos elementos. Querem um exemplo? Vamos ao mais simples. É comum que se diga que nosso alfabeto teve origem entre os fenícios. Será, mesmo? Há quem pense que pode ter começado na confluência de rotas terrestres que ligavam a Mesopotâmia à Palestina e, daí, alcançavam o Egito. Os fenícios, hábeis comerciantes, logo perceberam a vantagem de uma escrita alfabética, muito mais simples e fácil que os hieróglifos egípcios, e, apropriando-se dela, espalharam-na pela bacia do Mediterrâneo, durante suas incansáveis viagens de negócios. Não era preciso pertencer a uma classe sacerdotal ou ter a profissão de escriba para aprender umas poucas letras e fazer uso delas
Especialistas têm-se dedicado à análise do verdadeiro emaranhado de deuses que povos do Mediterrâneo, quase todos politeístas, desenvolveram. É inegável a equivalência entre muitas divindades, ainda que a mais clássica de todas as semelhanças, a dos gregos e romanos, seja alvo de questionamentos. Sabe-se, porém, que, nos primórdios, era generalizada a associação de divindades com forças da natureza, cujo culto, não raro, estava vinculado ao ciclo agrícola anual. Em termos práticos, variava o nome de deuses e deusas, mas os mitos guardavam semelhança e os rituais a eles associados também evidenciavam, ou uma origem comum, ou a inspiração em práticas alheias.
O intercâmbio cultural não foi, contudo, sempre de ordem pacífica. As guerras foram parte desse processo, resultando, eventualmente, em dominação de um povo por outro, mais forte militarmente, mas nem sempre superior quanto aos conhecimentos científicos, à arte ou à tecnologia. Atenas foi vencida por Esparta, a até então obscura Macedônia dominou cidades gregas poderosas e Roma subjugou a Grécia. Mas, como se sabe, a cultura grega exerceu tal encanto sobre os vitoriosos que, em pouco tempo, a elite romana passou a aprender grego e a imitar a arte grega em seus múltiplos aspectos. O maior confronto, no entanto, ao menos em se tratando de consequências, parece ter ocorrido entre Roma e Cartago, esta última, um poderoso império comercial sediado no norte da África. Não havia lugar para dois impérios tão próximos. Roma venceu e eliminou Cartago da concorrência.


2 comentários:

  1. Sempre uma riqueza e uma delícia ler seus textos. Grande abraço

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    1. Obrigada, Blog Anita Plural. Tenha um ótimo final de semana!

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