A fonte de informação - Plínio, o Velho - é confiável. Afinal, além de ser um dos grandes nomes da ciência na Antiguidade, ele chegou a ocupar um cargo importante no comando da marinha de Roma, de modo que não vem a ser nenhuma surpresa que, no Livro II de sua Naturalis Historia, tenha dedicado atenção às questões náuticas. Assim é que somos informados de alguns aspectos interessantes que regiam a navegação no Século I d.C., particularmente para as embarcações que percorriam águas do Mediterrâneo e adjacências.
Muitos navios comuns no mundo romano desse tempo eram mistos, ou seja, eram impelidos pela força do vento (tinham velas) e de músculos humanos, tanto de escravos como de condenados por algum crime. Empunhando longos remos, esses homens eram obrigados, em diversas manobras, a mover embarcações, quer mercantes, quer de guerra.
O vento, todavia, era preponderante. De acordo com Plínio, a temporada anual de navegação começava na data a que hoje chamamos 8 de fevereiro. Era a ocasião em que os ventos furiosos de inverno serenavam e o mar parecia mais calmo. Comércio e viagens eram possíveis e, nessas condições, com menor perigo. Assim seguia o ano, até que a chegada de uma nova estação fria obrigava quem tinha juízo a permanecer em terra. Lemos em Naturalis Historia:
Calendário romano para os meses de novembro e dezembro (³) |
Entretanto, ainda de acordo com Plínio, havia, no inverno, uns poucos dias de navegação favorável, "seis dias antes e seis dias depois do dia mais curto do ano", ou seja, do solstício de inverno. Para viagens breves, eram uma possibilidade, e também um risco. O mar podia sofrer mudanças bruscas, a viagem talvez não ocorresse tão depressa quanto se supunha possível. Era realmente perigoso. Somente piratas - sempre eles! - e que se arriscavam em meio às ondas de inverno, esperando pilhagem maior, desde que sobrevivessem.
Marinheiros desse tempo eram homens supersticiosos. Em qualquer estação do ano, o mar tinha (e tem) seus perigos, daí porque, dentre todas as divindades do panteão romano, Castor e Pólux, os deuses-estrelas da Constelação de Gêmeos, eram, segundo informação de Plínio, invocados como protetores dos marinheiros: "O povo faz preces a eles, como deuses que socorrem no mar." (²)
É certo que Plínio, com justificado ceticismo, não parecia demonstrar muita fé na intervenção de tão ilustres personagens. Não censurava, porém, a devoção popular. Que mal haveria nessa crença ingênua (talvez pensasse), se ela ajudava a marinhagem a levar de vencida o receio que a fúria das ondas encorajava?
Pequena embarcação romana (⁴) |
(1) Nota-se que o começo das estações estava, na mentalidade romana, associado às condições climáticas, não sendo visto como um evento astronômico com data fixa, não importando o frio ou calor em dias predeterminados.
(2) Os trechos citados de Naturalis Historia são tradução de Marta Iansen, para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(3) MALLET, Allain. Manesson Beschreibung des gantzen Welt-Kreises. Frankfurt am Main: J. A. Jung, 1719, p. 59.
(4) HOLMES, George C. V. Ancient and Modern Ships Parte I. London: Eyre and Spottiswoode, 1910, 49.
(3) MALLET, Allain. Manesson Beschreibung des gantzen Welt-Kreises. Frankfurt am Main: J. A. Jung, 1719, p. 59.
(4) HOLMES, George C. V. Ancient and Modern Ships Parte I. London: Eyre and Spottiswoode, 1910, 49.
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