quinta-feira, 8 de março de 2018

O comércio, a pesca marítima e o desenvolvimento das técnicas de navegação

Sobrevivência e expectativa de lucro são dois elementos eficazes para vencer a preguiça e forçar a humanidade a ir além do habitual - alguém discorda? Plínio, um romano que viveu entre 23 e 79 d.C., escreveu no Livro VI de Naturalis Historia (¹): "O interesse pelo lucro encurtou a distância até a Índia." (²)
É claro que Plínio não estava sugerindo que a Terra havia encolhido - suas palavras eram, sim, uma referência à descoberta, ainda em tempos do Império Romano, de uma rota marítima mais favorável, com base nas monções. A propósito, este é um bom momento para demolir a ideia absurda que ainda anda pela cabeça de alguns, segundo a qual foi somente durante as Cruzadas que artigos de luxo do Oriente despertaram o interesse de europeus. Como se vê, o apreço por sedas, joias, especiarias, móveis sofisticados e muitos outros artigos finos vem da Antiguidade. Era por isso que marinheiros cruzavam o Índico, embora, desde a Península Arábica, a rota fosse completada por terra.
Embarcação egípcia da Antiguidade (³)
A ampliação dos conhecimentos de navegação não favorecia somente o comércio de luxo. Havia o benefício à pesca, que não era uma questão de mera curiosidade, lazer ou de desenvolvimento do saber científico; também não era, em suas origens, intrinsecamente vinculada a projetos de expansão territorial. Tinha como meta a obtenção de alimento. Se houvesse bastante para o comércio, tanto melhor, mas era, com prioridade, uma questão de sobrevivência para os povos litorâneos, que tinham, às vezes, território escasso para cultivo e pastagens. Romanos, por exemplo, eram vorazes apreciadores de atuns, mas, para obtê-los, deviam enfrentar as águas do Mediterrâneo. Como regra geral, consideravam que os melhores atuns eram provenientes dos arredores da ilha de Samos, embora os de Bizâncio e da Sicília também fossem apreciados.
Soa mal dizer que a necessidade de assegurar um suprimento de proteínas e a paixão pelo lucro foram vitais para o desenvolvimento da navegação astronômica? Fica a seu critério, leitor, decidir o caso. Mas foi assim que a navegação estritamente de cabotagem foi superada. Os conhecimentos científicos resultantes, a princípio meros efeitos colaterais, seriam, posteriormente, decisivos para a humanidade, inclusive para "encolher" de vez este planeta, a partir dos Séculos XV e XVI.

(1) Pode-se dizer que, sob vários aspectos, Naturalis Historia foi uma espécie de enciclopédia da Antiguidade; o fato notável é que essa obra de tão vasto alcance foi escrita por uma só pessoa.
(2) A citação de Naturalis História foi traduzida por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) LINDSAY, W. S. History of Merchant Shipping  vol. 1. London: Sampson Low, Marston, Low, and Searle, 1874, p. 56.



Veja também:

2 comentários:

  1. Curiosamente, Marta, foi a ambição de TER, e não a de SER, a principal razão para levar os homens mais longe. E nada mudou, entretanto, limitamo-nos a dar voz aos nossos instintos mais primários. É assim, o homem.

    Um bom final de semana :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O SER também tem seu lugar. Reconheço, porém, que para uma minoria.

      Tenha vc também um ótimo final de semana!

      Excluir

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.