Quem pode trabalhar bem, se sabe que está sob pena de morte ou de mutilação, na hipótese de algum erro? Era essa, leitores, a situação de cirurgiões e construtores que viviam e trabalhavam na Mesopotâmia por volta do Século XVIII a.C. - tempos complicados, não?
Dizia o Código de Hamurabi:
"Se um cirurgião, usando um instrumento de bronze, fizer um corte grande em alguém, e essa pessoa morrer ou ficar cega, a mão do cirurgião será cortada."
Isso acontecia caso a desastrada cirurgia fosse feita em uma pessoa de condição livre. Se, no entanto, a pessoa que passasse por cirurgia e morresse fosse cativa, competia ao cirurgião pagar o valor desse escravo ou escrava ao seu respectivo proprietário.
A situação dos construtores não era muito melhor, uma vez que o mesmo rigorosíssimo Código estipulava:
"Se um construtor edificar uma casa para alguém, mas não a fizer de forma apropriada, e, em consequência, a casa cair, matando o proprietário, o construtor será morto. Se morrer o filho do proprietário, o filho do construtor será executado."
Com leis assim, é até difícil imaginar que alguém quisesse ser construtor ou cirurgião nesses tempos remotos (¹), quando o conhecimento científico era bastante limitado. Diante dos riscos evidentes, é provável que mais de um cirurgião recusasse atendimento (²), ao vir à sua presença algum caso difícil. Os "instrumentos de bronze" utilizados não passavam por qualquer esterilização, mesmo porque ninguém fazia a menor ideia da existência de microrganismos, e disso os leitores podem facilmente extrair as consequências. Resguardadas as diferenças nas ocupações, o mesmo pode ser dito quanto a quem assumia a responsabilidade pelas construções da época.
(1) No caso de algumas profissões, o Código estipulava até mesmo quanto podia ser cobrado para cada trabalho a ser feito. Cirurgiões, por exemplo, tinham sua remuneração estipulada em lei, assim como aqueles que cuidavam de animais doentes (os precursores dos modernos veterinários).
(2) O Código de Hamurabi não faz referência a cirurgiões que recusavam atendimento.
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Foi assim, sempre será: o progresso e a inovação acarretam sempre enormes custos. Dito de outra forma, "quem não quer ser diabo, que não lhe vista a pele". :)
ResponderExcluirAbraço
Pode ser, mas, se leis assim desestimulavam a negligência, também podiam ser muito injustas, diante dos escassos conhecimentos científicos da época.
ExcluirTenha uma ótima semana!