quinta-feira, 15 de março de 2018

Assírios eram orgulhosos torturadores de prisioneiros de guerra

Em nosso tempo, a maioria dos países tenta manter uma imagem favorável junto às outras nações, zelando, no âmbito diplomático, para que nada comprometa as aparências em questões como respeito às leis, aos direitos dos cidadãos e ao cumprimento de acordos internacionais que assegurem a manutenção da paz. Afinal, o que turistas estrangeiros (¹) pensariam de um país em que alguns dos principais monumentos fossem consagrados à valorização de todos os tipos imagináveis de tortura contra inimigos derrotados em combate? Pois saibam, leitores, que, na Antiguidade, um lugar assim de fato existiu: estamos falando da Assíria. 

Relevo assírio em que inimigos aparecem decapitados - veja no alto da imagem (²)

Relevo assírio em que soldados são mostrados carregando cabeças de inimigos - observe à esquerda (³)

Agricultura, pastoreio e comércio eram atividades econômicas correntes entre os assírios; a guerra, porém, com seus afazeres, era a verdadeira obsessão. Viviam prontos para ela, procurando pretextos para novas operações militares, e, através da caça, treinando a prontidão para o combate. Por quê? Ora, leitores, não simplesmente porque tivessem um insaciável apetite sanguinário, mas pelo lucro resultante da pilhagem de tudo quanto tinham os inimigos derrotados. Do desenvolvimento de máquinas de guerra (⁴) à suprema crueldade na tortura física e psicológica dos prisioneiros, tudo convergia para um só propósito, ou seja, assegurar que as riquezas acumuladas por outros povos fluíssem continuamente para as cidades assírias. Se era possível obter tal resultado apenas pela eficácia da intimidação (que "produzia" o pagamento de tributos mais que extorsivos por aqueles que não tinham nem as forças e nem a coragem para enfrentar os assírios), ótimo. Caso contrário, a formidável máquina de guerra era posta em operação, para obter, pela força, aquilo que as ameaças não haviam conseguido. Nos palácios assírios, as conquistas militares e a avalanche de crueldades praticadas eram, sem falta, celebradas em relevos que inflavam o ego dos naturais do país e horrorizavam os visitantes.
Quem ousaria negar que, quando os assírios foram finalmente derrotados em 612 a.C., sobejava a uma parte significativa do mundo antigo razões suficientes para comemoração?

(1) Se é que haveria muita gente disposta a fazer turismo em um tal lugar.
(2) LAYARD, Austen Henry. The Monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853.
(3) Ibid.
As imagens foram editadas para facilitar a visualização neste blog.
(4) Que, sob o manto das novas tecnologias, têm sucessoras até hoje.


Veja também:

4 comentários:

  1. Devíamos abominar um tal povo, assim como os espartanos, mas se analisarmos os seus "retratos" no cinema, constatamos que não raras vezes é atribuída uma aura quase sobrenatural a estas nações, por causa da sua vocação bélica. Será que o nosso ADN não tem uma letrinha qualquer que explica esta obsessão pela violência?
    Abraço Marta, grata pelo seu maravilhoso comentário lá n'O Berço
    Ruthi

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    1. Eu é que lhe agradeço por tantas visitas e comentários neste blog!

      Sim, acho que o "lado escuro" da humanidade tem sido retratado de modo sedutor, tanto no cinema como na TV, e mesmo em documentários, que deveriam ser mais isentos. E por que é assim? Ora, porque há público que aprecia tudo isso... Esta observação não vale só para assírios e espartanos da Antiguidade, deve incluir acontecimentos muito mais recentes. Nem é preciso dizer.

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  2. A Marta sabe muito bem, como historiadora, que estas coisas devem sempre ser vistas no devido contexto. Os Assírios, sob a lupa do olhar actual, podem parecer cruéis, mas se nos conseguirmos situar no tempo - difícil, eu sei - a sua postura apenas revela pragmatismo e eficácia. Se simpatizo com os Assírios? Nada! Mas interpretar a História, como muito bem sabe, está para lá de simpatias.

    Uma boa semana :)

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    1. Sim, é verdade! Mas os documentos contemporâneos, ainda que não muito numerosos, mostram que mesmo na Antiguidade os assírios eram vistos com horror, e não apenas por povos que os enxergavam como uma ameaça.
      Se me permite uma comparação, quando analisamos o século passado (XX), vemos uma variedade de regimes políticos neste planeta. Eram todos iguais, em suas práticas e resultados? Certamente não. O mesmo pode ser dito em relação a outras épocas.

      Tenha uma ótima semana!!!

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