sexta-feira, 6 de março de 2015

Uma comparação entre os soldados de infantaria dos bárbaros germanos e os escudeiros medievais

É sabido que muito dos valores da sociedade medieval provinha de um sincretismo entre tradições romanas e costumes bárbaros. O uso de que cavaleiros tivessem um escudeiro como auxiliar parece vir do sistema amplamente empregado, segundo Júlio César, entre os germanos que viviam além do Reno:
"Seis mil cavalos iam escoltados por número correspondente de infantes, selecionados individualmente entre os mais velozes e mais valentes, pelos homens da cavalaria, de modo que cada um escolhia o que mais lhe agradava; cavaleiro e infante entravam juntos em combate, de modo que, se um cavaleiro era ferido, o infante o socorria imediatamente; em marchas forçadas ou em retiradas esses infantes eram, pelo treino frequente, tão rápidos, que, agarrados à crina dos cavalos, corriam ao lado dos animais." (¹)
Isso é o que encontramos em De Bello Gallico. César devia saber do que falava, já que as tropas por ele comandadas enfrentaram germanos não poucas vezes. Mas, quanto à questão do hábito medieval de que cavaleiros tivessem, cada um deles, seu respectivo escudeiro, há que observar uma diferença nada desprezível em relação ao costume bárbaro (²). Os cavaleiros germanos elegiam por seus companheiros os mais hábeis dentre os soldados da infantaria; já os escudeiros que acompanhavam os cavaleiros da Idade Média não eram militares experientes, mas jovens aprendizes que, acompanhando um guerreiro tarimbado, estavam em contínuo treinamento que iria levá-los, aos poucos, ao pleno conhecimento dos segredos bélicos, tais como se afiguravam em seus dias.

(1) Tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(2) Para romanos e gregos, era bárbaro todo aquele cuja língua materna não fosse nem o latim e nem o grego.


Veja também:

2 comentários:

  1. Que interessante Marta! Esse post fez me lembrar um pouco de Dom Quixote e Sancho Pança, como você disse, os cavaleiros da idade média tinham escudeiros não tão preparados como os dos povos germanos, sendo que Cervantes trata em sua história pelo contrário, como se fosse uma crítica aos cavaleiros ''despreparados'. Achei muito interessante esse herança de ter ''ajudantes'' que a idade média herdou dos romanos e germanos. :)

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    Respostas
    1. Olá, Lucas,
      Quando a gente lê Dom Quixote, acaba percebendo que, afinal, o mais "normal" ou menos maluco é Sancho (que, aliás, não entendia nada de cavalaria). Já Dom Quixote vive com a cabeça em uma cavalaria que só existiu em lendas. Mas é aí que está a graça...
      Já notou, no entanto, como a cavalaria tem um apelo enorme à imaginação? Voltou com muita força durante o Romantismo, na obra de Sir Walter Scott, por exemplo (lembra-se de Ivanhoé?). E há tantos filmes, alguns mais antigos, outros mais recentes, nos quais cavaleiros, damas, escudeiros têm papel importante. Acho que a humanidade gosta muito disso...

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