quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Venda de frutas na capital do Império

Escravo vendedor (²)
No final do Século XVII, se devemos crer nas palavras de Joaquim Manuel de Macedo, as frutas, verduras e flores eram escassas na cidade do Rio de Janeiro, que ainda não era capital, apenas uma cidade tentando resistir aos frequentes ataques e tentativas de invasão de piratas e corsários: 
"As verduras eram poucas e limitadíssimas em variedades. As frutas estavam no mesmo caso. Flores ninguém vendia nem comprava, davam-se como davam-se e trocavam-se as mudas e sementes das que já se cultivavam; quais eram, além das do país? Não estudei a questão floriantiquária, mas que havia cultivo de flores, juro-o, porque havia senhoras." (¹)
O correr dos anos, o crescimento e fortalecimento da cidade, a vinda temporária da Corte portuguesa ao Brasil, a Independência, trouxeram modificações significativas, tanto que Daniel P. Kidder, missionário metodista americano (³) que esteve no Rio de Janeiro durante o Período Regencial, pôde afirmar:
"[...] as frutas indígenas são muito variadas e saborosas. Além das laranjas, limas, cocos e abacaxis que são bastante conhecidos entre nós, há mangas, bananas, romãs, mamões, goiabas, jambos, araçás, mangabas e muitas outras espécies, cada uma das quais tem sabor e perfume peculiares.
Dispondo-se de tão grande variedade de frutas para atender os caprichos ou as necessidades da vida, por certo ninguém tem de que se queixar. Esses artigos são encontrados em profusão nos mercados e apregoados pelas ruas da cidade e dos subúrbios por escravos e negros libertos que os levam geralmente em balaios na cabeça. [...]" (⁴)
O olhar do estrangeiro que procurava pelas singularidades do país que visitava não deixou escapar o modo como os vendedores ambulantes de frutas atraíam seus fregueses:
"[...] Os vendedores ambulantes passam constantemente pelas ruas apregoando em altas vozes a natureza e a excelência de suas mercadorias ou emitindo algum som indeterminado, apenas para atrair a atenção do público. [...]" (⁵) 
As condições de transporte no Brasil daquela época eram precárias, e frutas, como todo mundo sabe, têm uma vida útil bem curta. Deviam portanto, ser de produção local ou, no máximo, de pouca distância da capital do Império, para que pudessem chegar aos compradores em estado satisfatório para consumo. 

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Vendedor de frutas no Rio de Janeiro, depois do fim da escravidão e da Proclamação da República (⁶) 




(1) MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias da Rua do Ouvidor.
(2) Cf. BIARD, François. Deux Années au Brésil. Paris: Hachette, 1862, p. 110. Desenho de E. Riou, sobre esboços de F. Biard. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 
(3) Daniel P. Kidder esteve no Brasil entre 1837 e 1840.
(4) KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil, trad. Moacir N. Vasconcelos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 89.
(5) Ibid.
(6) Cf. VALLENTIN, W. In Brasilien. Berlin: Hermann Paetel, 1909. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


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