Dom Manuel, rei de Portugal (³) |
Embora haja pouca informação a respeito, no primeiro dos Diálogos das Grandezas do Brasil (¹), obra do começo do Século XVII (²), Brandônio explica a Alviano, seu interlocutor, que, de um fidalgo, ouvira informações muito interessantes:
"Esta província do Brasil é conhecida no mundo com o nome de América, que com mais razão houvera de ser pela terra de Santa Cruz, por ser assim chamada primeiramente de Pedro Álvares Cabral, que a descobriu [...], na segunda armada que el-Rei D. Manuel, de gloriosa memória, mandava à Índia, e acaso topou com esta grande terra não vista nem conhecida até então no mundo, e por lhe parecer o descobrimento notável, despediu logo uma caravela ao Reino com as novas do que achara, e sobre isso me disse um fidalgo velho, bem conhecido em Portugal, algumas coisas de muita consideração." (⁴)Note-se que Brandônio assumia a tese do descobrimento não intencional, mas isso não tem lá grande importância. Já mordido pela curiosidade, Alviano retruca:
"E que é que vos disse esse fidalgo?" (⁵)A resposta, expresse ou não a realidade do que ocorreu em Portugal diante da chegada da notícia do descobrimento, revela muito sobre os costumes da época, quando se desejava avaliar uma novidade como favorável ou infausta:
"Dizia-me ele que ouvira dizer a seu pai, como coisa indubitável, de que a nova de tão grande descobrimento foi festejada muito do magnânimo rei e que um astrólogo, que naquele tempo no nosso Portugal havia de muito nome, por esse respeito levantara uma figura, fazendo computação do tempo e hora em que se descobriu esta terra por Pedro Álvares Cabral, e outrossim do tempo e hora em que teve el-Rei aviso de seu descobrimento, e que achara que a terra novamente descoberta havia de ser uma opulenta província, refúgio e abrigo da gente portuguesa [...]." (⁶)Não quero roubar a graça das conclusões que vocês, leitores, poderiam já ir tirando, mas é preciso dizer que até hoje há controvérsias quanto ao verdadeiro dia em que a esquadra de Cabral chegou ao Brasil, mesmo havendo relato razoavelmente detalhado na Carta de Caminha. Mas, pondo de lado essa preocupação, considerem a última observação de Brandônio, quanto à suposta "profecia" relativa ao futuro do Brasil, e notem o horror que transparece nas palavras de Alviano:
"Não permita Deus que padeça a nação portuguesa tantos danos que venha o Brasil a ser o seu refúgio e amparo [...]." (⁷)Não, senhor Alviano, Portugal não precisou e não precisa de amparo. Mas, quanto a refúgio, certamente o Brasil o foi, ao menos para a realeza que aportou no Rio de Janeiro em 1808, bem como para a multidão de imigrantes que chegou aos portos brasileiros nos Séculos XIX e XX, provenientes não só de Portugal, mas de quase todo canto deste mundo. E continuam eles, os imigrantes, a vir para aqui, de outras terras que não aquelas do passado, porque este planeta, afinal, vive em ebulição, e a gente que nele habita precisa, às vezes, mudar de endereço.
(1) Autoria atribuída, com razoável probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão.
(2) Os Diálogos foram escritos, portanto, mais de um século após o descobrimento "oficial" em abril de 1500.
(3) Cf. BRITO, Frei Bernardo. Elogios dos Reis de Portugal com os Mais Verdadeiros Retratos que se Puderam Achar. Lisboa: Pedro Crasbeeck, 1603. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(4) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 57.
(5) Ibid., p. 58.
(6) Ibid.
(7) Ibid.
(4) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 57.
(5) Ibid., p. 58.
(6) Ibid.
(7) Ibid.
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