sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Traje de mulheres abastadas nos bailes e teatros durante o Primeiro Reinado

Já não era o "tempo do rei". Formalmente independente, o Brasil tinha D. Pedro I como imperador, e ia, aos poucos, mudando os velhos e sisudos costumes dos dias coloniais por outros, que, na moda, sofriam forte influência francesa. É verdade que, nas ruas, ainda eram vistas, eventualmente, mulheres usando as famosas e pesadas mantilhas, cuja finalidade era ocultar todo o corpo, deixando apenas o rosto, ou parte dele, à mostra. Mas entre gente abastada, que frequentava festas luxuosas, bailes e teatros, o trajar feminino tinha outro aspecto. Observador, o mercenário alemão C. Schlichthorst, que esteve na capital do Império entre 1824 e 1826, escreveu:
"No teatro e nos bailes, [as mulheres] aparecem com vestidos [...] cobertos de inúmeras flores e laçarotes de fitas, saiotes de cetim, corpete igual, bordado a ouro ou prata, rico diadema, flores e plumas nos cabelos em agradável combinação. As meias e os sapatos são sempre de seda. Neste ponto, o luxo excede a qualquer expectativa." (¹) 
O traje das damas que frequentavam a corte imperial era semelhante, porém com mais luxo: 
"O traje de corte se assemelha a este (²), leve e transparente como o ar sob um céu abençoado. Um manto de veludo ricamente bordado em ouro e prata, um barrete com flutuantes penas de avestruz e um adorno de brilhante dão-lhe uma dignidade fantástica e imponente. [...]" (³) 
Quem vive no Século XXI pode achar tal moda muito estranha, mais condizente com uma fantasia de carnaval que com roupa de gente séria em ocasiões que requeriam traje de gala. Mudanças viriam, com certeza, e muito frequentemente, ao longo do Século XIX, quando as publicações francesas voltadas ao público feminino passassem a ser aguardadas com ansiedade. A "última moda em Paris" seria anunciada pelos lojistas que vendiam artigos de vestuário para mulheres que tinham recursos de sobra para tanto. 
Contudo, nos dias do Primeiro Reinado, a extravagância estava em pauta, embora, quanto às joias das madames da Corte, Schlichthorst tivesse uma ressalva a fazer: 
"[...] nem tudo que ao esplendor das velas lança raios multicores é diamante verdadeiro, porque em nenhuma parte do mundo nesse país dos diamantes se usam tantas pedras falsas" (⁴).
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Traje de uma família brasileira no governo joanino (⁵)




(1) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1824 - 1826), trad. Emmy Dodt e Gustavo Barroso. Brasília: Senado Federal: 2000, p. 92.
(2) Ou seja, o traje na corte era semelhante ao usado nos teatros.
(3) SCHLICHTHORST, C. Op. cit., p. 92.
(4) Ibid. 
(5) Cf. CHAMBERLAIN, Tenente. Vistas e Costumes da Cidade e Arredores do Rio de Janeiro em 1819 - 1820. Rio de Janeiro / São Paulo: Livraria Kosmos Editora, 1943, p. 38.  A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


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