D. Pedro I, de acordo com Debret (¹) |
D. Pedro, como se esperava do monarca de um país que tinha uma religião oficial, ostentava a devoção conveniente que o obrigava a comparecer às missas e outras cerimônias da Igreja, em especial em datas festivas, celebradas com solenidade. Seguimos com a descrição de Schlichthorst:
"O imperador senta-se no trono, ao pé do altar-mor. Junte dele, o bispo. Em frente, os cônegos da Capela Imperial. Se a imperatriz comparece, fica só ou em companhia da filha, a princesa Maria da Glória, na tribuna imperial. Uma ou duas damas da Corte ocupam uma tribuna maior ao lado." (²)
Engana-se, porém, quem imagina que, em tal situação, o imperador era, para seus leais súditos, um exemplo acabado de bom comportamento. Tudo dependia, como já veremos, do teor do sermão. "Se a prédica agrada ao imperador", escreveu C. Schlichthorst, "ele a ouve com a maior atenção. Se, porém, escapa ao orador uma expressão que desagrada a Sua Majestade, acabou-se a sua devoção. O imperador jamais esconde sua suscetibilidade e, nessas ocasiões, vira as costas para o pregador, pigarreia, brinca com o sabre e, por outros sinais inequívocos, demonstra seu aborrecimento." (³)
A despeito da imperial falta de compostura, os oradores sacros eram, com frequência, bastante destemidos, e sua audácia tinha imperial utilidade:
"Graças, no entanto, à franqueza e destemor do clero brasileiro, os pregadores lhe fazem ouvir coisas que, cercado por uma corte escravizada, só assim poderia saber." (⁴)
Ao tempo de Pedro I havia, no Rio de Janeiro, frades notáveis pela erudição e pelo talento na oratória. Portanto, não devia ser tanto a forma que caia mal aos ouvidos de Sua Imperial Majestade, e sim o conteúdo. Todos sabemos, porém, que não escasseavam os motivos para uns puxões (exclusivamente verbais) nas imperiais orelhas. Compreende-se, compreende-se...
(1) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 3. Paris: Firmin Didot Frères, 1839. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1824 - 1826). Brasília: Senado Federal: 2000, p. 114.
(3) Ibid., pp. 114 e 116.
(4) Ibid., p. 116.
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