O fim da escravidão levou ao aparecimento de alternativas para o transporte de cargas e mudanças na capital do Império do Brasil
Viajantes estrangeiros que chegavam à capital do Brasil no Século XIX logo constatavam que o transporte de objetos de qualquer dimensão sempre era feito por escravos. Até mesmo mudanças eram realizadas assim, de modo que não era incomum que cativos devessem, percorrendo as ruas do Rio de Janeiro, carregar todos os móveis de uma casa para outra. O pintor francês François-Auguste Biard chegou a ver um grupo de escravos carregando um piano! Isso foi em 1858.
À medida, porém, que leis restritivas à escravidão entravam em vigor, proibindo, por exemplo, o tráfico de africanos (¹), ficou evidente que a escravidão, mais cedo ou mais tarde, acabaria. Surgiu, então, a necessidade de encontrar outros modos de realização do trabalho. Nascia também, ainda que tardiamente, um sentimento de que o trabalho escravo devia ser abolido, já que era uma desonra para o País. Escravos carregadores passaram a ser vistos mais raramente.
Não imaginem os leitores que tais reflexões provocaram, de imediato, alguma louca aventura modernizadora. Se não era mais possível ou aceitável que escravos percorressem as ruas carregando móveis, a tarefa passou a ser atribuída a animais de carga que puxavam carroças. Vejam este anúncio que apareceu no Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro Para o Ano de 1871 (²):
Observem a menção ao aluguel de carroças para transporte de café, que deve ser contrastado com o método usado décadas antes, quando grupos de escravos, levando sacas sobre a cabeça, eram vistos repetindo uma cançãozinha monótona, que servia para marcar o ritmo do trabalho. Vejam que, ainda que lentamente e sob a pressão das circunstâncias, os costumes mudavam. Isso não significa que carroças e outros veículos com tração animal não fossem usados anteriormente - é claro que eram -, e nem que os escravos carregadores tenham, de um dia para outro, sumido das ruas. Tudo o que se pode dizer, então, é que demorou, mas a péssima mania chegou ao fim.
(1) Lei Eusébio de Queirós, 1850.
(2) HARING, Carlos Guilherme. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro Para o Ano de 1871. Rio de Janeiro: E & H Laemmert, 1871, p. 610.
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