Escravos serrando madeira, de acordo com Debret (¹) |
O segundo barão de Paty do Alferes, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, em sua Memória Sobre a Fundação e Custeio de uma Fazenda, cujo objetivo era dar instruções ao filho que iria começar a vida de fazendeiro, escreveu:
"Tende o cuidado logo, em princípio, de pôr alguns escravos moços a aprender os ofícios de carpinteiro, ferreiro e pedreiro; em pouco tempo estarão oficiais e tereis de casa operários, tendo-vos assim aproveitado do tempo despendido na aprendizagem.
Não vos esqueçais de fazer ensinar também algum a oleiro para fazer a telha e tijolo para o gasto da fazenda." (²)
O ensino de um ofício aos escravos resultava, portanto, na conveniência de ter trabalhadores qualificados à disposição, mas também em economia. Quanto à recomendação de ensinar "escravos moços", o motivo, facílimo de compreender, é que seria provável tê-los por mais tempo.
Já nas cidades, era bom negócio ser proprietário de um escravo qualificado em um ofício, uma vez que era costume alugar seus serviços a quem deles precisasse. A renda, é óbvio, ia para as mãos, ou melhor, para os bolsos do senhor, embora sempre houvesse um caso ou outro em que, para estímulo ao trabalho, à obediência, e para evitar fugas, se desse ao escravo uma pequena parte do valor obtido com a diária. Era, sim, uma brutal exploração, que muita gente, submersa na lógica escravista, nem conseguia enxergar e achava a coisa mais normal deste mundo.
(1) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda. Memória Sobre a Fundação e Custeio de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro 2ª ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1863, p. 50.
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