Uma indígena do Brasil, de acordo com Debret (¹) |
Reflitamos, meus leitores: se pentes eram alvo de escambo, é porque não havia similares à altura. Sendo assim, de que modo os cabelos que prenderam a atenção de Caminha eram penteados?
No Tratado Descritivo do Brasil em 1587, escrito por Gabriel Soares, um português que, com viva curiosidade, investigou tudo o que podia a respeito do Brasil, disso fazendo um registro meticuloso, encontramos esta explicação:
"Anhangaquiabo quer dizer pente do diabo; é árvore de bom tamanho, cujo fruto são umas bainhas grandes; têm dentro em si uma coisa branca e dura, afeiçoada como pente, de que os gentios se aproveitavam antes de comunicarem com os portugueses e se valerem dos seus pentes." (²)
É provável que usar o anhangaquiabo não fosse muito confortável, ou os indígenas não teriam mostrado interesse pelos pentes trazidos pelos colonizadores. Mas devia funcionar. Como os leitores já devem ter observado, em nome da valorização da aparência, ou vaidade, se preferirem, que não era e nem é exclusividade de indígenas, a humanidade tem suportado muito desconforto pelos séculos afora, independente da cultura de origem. Lembrem-se dos espartilhos, das perucas do Século XVIII, dos pés enfaixados...
(1) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 220.
Veja também:
Ohhh, essa lista de acessórios desconfortáveis seria bem longa. E as cintas que as nossas mães usavam? Ufa! Ninguém merece.
ResponderExcluirO facto dos ameríndios terem, regra geral, cabelos lisos, facilitaria um pouco a coisa.
Abraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
Quanto aos acessórios, nem é bom pensar!... Já quanto aos indígenas, vale lembrar que, como regra, os cabelos eram lavados frequentemente, porque o banho no rio mais próximo era um hábito praticado várias vezes ao dia.
ExcluirA vaidade parece ser intrínseca à condição humana, não?
ResponderExcluirPenso naqueles brincos que os indígenas usam que fazem a orelha ir quase até o ombro, ou aqueles aparatos que aumentam os lábios. E as tatuagens e sinais no corpo? Enfim, a dor e a estética sempre caminharam muito próximas. E não é muito diferente no "mundo dos brancos".
Adorei a reflexão!
Um beijinho,
Ana Christ
Acho que é mais ou menos a mesma coisa em qualquer lugar do mundo, e foi assim até em ocasiões em que regimes ditatoriais tentaram impor uniformes à população. Sempre aparecia alguma tentativa de buscar o diferente. Coisas da "natureza humana" rsrsrsrsssssss...
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ResponderExcluirOlá, obrigada por visitar o blog História & Outras Histórias!
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