segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Estados totalitários e suas características

Uma das mais perfeitas definições de Estado Totalitário vem de um de seus maiores defensores: "Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato". Era essa, em síntese, a ideologia do fascismo italiano e de seu líder máximo, o duce Benito Mussolini.
Em um Estado totalitário a meta não é o maior bem para o maior número possível de cidadãos - o objetivo máximo é a grandeza do Estado, sua supremacia interna e sua força diante de outros Estados, sejam eles também totalitários ou não. Assim, uma lista considerável de regimes existentes em vários países, em algum momento do Século XX, poderia ser citada: fascismo, nazismo, stalinismo, franquismo, salazarismo, e assim por diante. Chega de "ismos", e vejam, leitores, que nem cabe aqui uma distinção estrita entre regimes de direita e de esquerda. Não é a retórica de um regime que está em questão, mas a estrutura que garantia e/ou garante seu funcionamento e apropriação do poder.
Algumas características, em maior ou menor grau, assinalaram grande parte dos regimes totalitários. Vejamos, então, algumas delas:
  • Culto à personalidade do líder, não importando se ele era chamado de duce, Führer ou de qualquer outro título grandiloquente - o fato é que esse líder devia ser visto como alguém que pairava acima das massas, funcionando como um modelo a ser seguido;
  • Militarização da sociedade, ou, pelo menos, valorização ao exagero dos homens em uniforme (até as crianças, na escola, eram incentivadas a atividades que favoreciam a formação de soldados);
  • Valorização da disciplina em todos os níveis da sociedade;
  • Uso da propaganda em larga escala e com uma competência surpreendente, para convencer e domesticar as massas;
  • Nacionalismo exacerbado (melhor seria dizer nacionalismo cego);
  • Controle da imprensa e restrições à liberdade de expressão, quer por meio de leis, quer pela intimidação, mediante emprego da violência;
  • Política externa agressiva;
  • Sistema de partido único;
  • Em alguns casos, uso da religião para convencer a população das supostas boas intenções de quem detinha o poder (¹);
  • Quer de direita, quer de esquerda, regimes totalitários sempre posaram como protetores das classes trabalhadoras, embora, como regra, ou as atividades sindicais fossem proibidas, ou, então, somente praticadas sob a tutela do Estado (²).
Que lhes parece, leitores? Pois saibam que ideólogos do totalitarismo, como regra, se diziam grandes estudiosos da História. Pelo visto, não devem ter aprendido grande coisa.
Por sua aparência de organização, disciplina e desenvolvimento econômico, em uma época de turbulência no cenário internacional, a partir do fim da Primeira Guerra Mundial, alguns regimes totalitários do Século XX, ao menos até que tivessem tempo suficiente para uma exibição completa de suas garras, chegaram a conquistar a simpatia de algumas das maiores democracias ocidentais. Parecia que, a seu modo, regimes "fortes" ajudariam a colocar um pouco de ordem no caos instaurado pelo conflito. Portanto, leitores, foi preciso ainda algum tempo para que as consequências do totalitarismo ficassem perfeitamente claras. O veneno da serpente não tardaria, porém, a manifestar seus efeitos...
Enquanto isso, fascistas faziam sucesso mundo afora, até mesmo no Brasil. Vejam, abaixo, fotos que apareceram na revista paulistana A Cigarra em maio de 1923 (³), mostrando aviadores do Partido Fascista Italiano que vieram participar  de uma festa de aviação em São Paulo:


Já a revista carioca O Malho trazia, também em um número de 1923 (⁴), um cartoon bastante curioso, relacionado a Mussolini e ao fascismo:


Os textos dizem:
"A proposta do governo forte de Mussolini:
- Vocês são uns almofadinhas! Dilapidadores! Ociosos! Vejam Mussolini! Admirem sua obra!
- Nós somos os camisas brancas..." (⁵)

(1) Mussolini, por exemplo, mediante a assinatura do Tratado de Latrão em 1929, procurou resolver pendências que o governo da Itália tinha com o Vaticano desde a unificação italiana no Século XIX. Em um país de maioria católica, essa atitude foi muito bem-recebida, e, na ocasião, interpretada favoravelmente.
(2) O corporativismo típico do Estado fascista italiano mostrou-se muito eficiente como instrumento de controle das reivindicações trabalhistas, favorecendo, ao mesmo tempo, os interesses do grande capital.
(3) A CIGARRA, Ano X, nº 207, 1º de maio de 1923.
(4) O MALHO, 17 de março de 1923.
O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(5) A graça do cartoon se deve ao fato de que "Camisas negras" eram os membros de um grupo paramilitar fascista, devido à cor do uniforme que usavam.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.