terça-feira, 26 de julho de 2011

Araraitaguaba, o porto feliz das monções - Parte 1


Araraitaguaba era o nome do porto, no rio Tietê, de onde partiam as monções que, principalmente no século XVIII, iam em direção às minas de Cuiabá. O nome indígena "Araraitaguaba" ou "Araritaguaba" significa, segundo alguns, "lugar onde as araras afiam o bico", ou, segundo outros, "lugar onde as araras pousam", ou ainda "lugar onde as araras fazem ninhos". Seja lá, no entanto, qual for o significado, remete necessariamente ao paredão rochoso que acompanha aquele trecho do Tietê, no município de Porto Feliz, Estado de São Paulo.
Monumento em homenagem às monções
(Porto Feliz - SP)
É, sem dúvida, um belo lugar, onde está o Parque das Monções, com o monumento inaugurado em 1920, ocasião de um certo entusiasmo pela História do Brasil, em parte decorrente da proximidade das celebrações do primeiro centenário da independência do Brasil. Junto ao rio, canoas de construção recente oferecem ao visitante uma referência às expedições dos que arriscavam a vida em perseguir a miragem do enriquecimento rápido nas minas de ouro.
Duraram as monções um tempo relativamente breve, tanto em virtude dos perigos que a viagem implicava quanto pelo fato de que a abertura de um caminho terrestre, longo, é verdade, mas um pouco menos arriscado, acabou por encerrar o ciclo mais brilhante dessas navegações. Por volta de 1822 Saint-Hilaire assinalou que as monções estavam restritas ao âmbito militar (¹) e, uns poucos anos depois, Hércules Florence anotou em seu diário da Expedição Langsdorff que, após um breve renascimento, as monções comerciais estavam, outra vez, caindo em desuso (²).
Sim, as monções findaram, e até mesmo o Tietê já não é o mesmo. Mas isso será assunto das próximas postagens.

Embarcações à margem do rio Tietê no local do antigo porto de Araraitaguaba

(1)
"Araraitaguaba"
"Há muito tempo, aliás, que os paulistas aproveitavam o rio Tietê, iniciando a gigantesca e perigosa navegação que os conduzia a Cuiabá e, se por ocasião de minha viagem, o comércio havia abandonado a via fluvial [...], o governo ainda da mesma se servia, algumas vezes, para transportar até Mato Grosso tropas e munições de guerra."
SAINT-HILAIRE, A. Segunda Viagem a São Paulo e Quadro Histórico da Província de São Paulo
Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 194
(2) "A navegação por Camapuã vai sendo muito menos frequentada depois que se abriu o caminho por terra, porém as remessas do governo têm continuado a seguir pelos caudais, não só em vista da menor despesa, como por ser o único meio de transportar artilharia. Alguns negociantes, que em outras épocas tinham tirado lucro dessas viagens, recomeçaram a fazê-las em razão da carestia das tropas de animais."
FLORENCE, H. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829
Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 82
"Camapuã é uma fazenda pertencente a uma sociedade que tem sua sede em São Paulo. Em estado de decadência desde que a navegação dos rios vai sendo abandonada pelos negociantes, conta perto de 300 habitantes, dos quais é a terça parte escravatura dos sócios."
Ibid., p. 66

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