Apreciar ou não pratos que têm berinjelas entre seus ingredientes é questão de gosto. Simples, há pessoas apaixonadas por berinjelas e há pessoas capazes de escolherem morrer a terem que ingerir um pedacinho só. Isso, a priori, não é assunto de História, mas passa a ser quando se descobre que, no século XIX, havia quem tivesse ideias macabras sobre esses inofensivos vegetais. Vamos ao caso.
Ainda na primeira metade do século XIX publicou-se em Lisboa uma interessante obra cujo título era Arte do Cozinheiro e do Copeiro, com o subtítulo Compilada dos Melhores Autores, Que Sobre Isto Escreveram Modernamente - ou seja, o autor, que identificou-se como "Um Amigo dos Progressos da Civilização" é, na verdade, um tradutor e compilador do assunto que se propõe a abordar. Ora, leitor, em uma das páginas desse livro aparece a seguinte observação, aqui transcrita na ortografia atual, para facilitar a leitura:
"Berinjelas fritas
Nota: Suprimo as diversas receitas de guisar este fruto, por ser nocivo à saúde, posto que em Itália usem dele, e o mandem para os outros reinos entre as diversas conservas que dali saem. Uma das razões que me fez empreender o trabalho desta tradução foi para acautelar os meus leitores do pernicioso e extravagante uso que fazem a maior parte dos cozinheiros de várias drogas e vegetais nocivos à saúde: este em questão é muitíssimo indigesto, desenvolve gases nos intestinos e causa algumas vezes crescimentos de febre."
Certo, alguém não gosta de berinjela e, como é provável, inventará toda sorte de pretextos para não ter de deglutir o alimento indesejado. Mas berinjelas nocivas à saúde? Se isso fosse verdade, é bem provável que a linhagem dos apreciadores de berinjelas estivesse devidamente extinta, ou, no melhor das hipóteses, à beira da extinção. Mas esse não deve ser o caso, já que diariamente, em feiras e supermercados, berinjelas são vendidas e integram pratos que vão dos mais simples aos sofisticados. Tudo uma questão de gosto, como disse no início.
Apenas para entretenimento de quem lê esta postagem, principalmente se apreciar animais domésticos e tiver cachorros em casa, vai aqui mais um conselho do mesmo autor:
"Dos ossos da mesa
Não habitueis os vossos cães a comer os ossos ao pé da mesa, porque se fazem rosnadores e importunos; guardai-os num pote de ferro coberto, e dai-lhos depois de acabado o jantar."
Não consigo deixar de assinalar que o segundo conselho (o dos ossos) é, afinal, bem mais útil e engraçado que o primeiro (o das berinjelas), ainda que seja no mínimo estranho, para os padrões atuais, por constar em um livro dedicado à culinária.
Veja também:
HAVIA ALGUM PRATO ESPECIAL FEITO DE BERINJELA NO BRASIL COLONIAL.OS NEGROS COMIAM BERINJELA NESTE PERÍODO?
ResponderExcluirOlá, Edson, esta postagem trata, como você viu, do uso de berinjela na Europa. Quanto ao uso por escravos no Brasil, nunca encontrei nenhuma referência, mesmo já tendo lido uma multidão de documentos da época e obras historiográficas sobre isso :-D, o que não quer dizer que não usassem, até porque, muitos senhores concediam aos escravos um pequeno trato de terra a fim de que cultivassem para uso pessoal (muito esperto, isso dispensava os ditos senhores da obrigação de providenciar algo extra para alimentação dos cativos). Há aqui no blog uma postagem específica sobre a alimentação dos escravos (http://martaiansen.blogspot.com/2010/09/de-que-se-alimentavam-os-escravos-no.html ), e logo voltarei a escrever sobre esse assunto, já está agendado no planejamento. Se, em minhas pesquisas, encontrar alguma coisa nova sobre o que você perguntou, deixarei anotado aqui.
ResponderExcluirObrigada por visitar "História & Outras Histórias". Volte sempre...