sexta-feira, 26 de abril de 2024

Rituais funerários em Atenas

Sólon determinou moderação nas lamentações pelos atenienses mortos


Atenienses contemporâneos de Sólon (¹) enterravam os mortos com a cabeça voltada para o Ocidente, ao contrário de outros gregos (²). Não era só: em Atenas era costume sepultar uma só pessoa em cada túmulo, enquanto outros gregos (³) não viam problema em enterrar três ou quatro pessoas na mesma sepultura. Talvez não houvesse muita lembrança desses detalhes, não fosse o fato de Plutarco tê-los mencionado em Vitae parallelae, ao escrever a biografia de Sólon, legislador ateniense, que conduziu os interesses de sua cidade na disputa contra os megarenses pela ilha de Salamina. 
Consta, também em Vitae parallelae, que com a ajuda de Epimênides de Creta, reputado um dos grandes sábios da época, Sólon teria introduzido algumas mudanças nos rituais funerários praticados em Atenas:
"Ordenou-se que nas homenagens prestadas aos mortos houvesse mais moderação, em lugar das lamentações exageradas que até então se faziam, como se muito choro pudesse, de algum modo, ser útil aos que haviam morrido." (⁴)
Isso não significa, contudo, que em qualquer caso os que morriam fossem sempre e necessariamente deixados em paz. Por ocasião de uma rebelião popular enfrentada por Sólon e outros líderes atenienses, os revoltosos foram condenados, em julgamento público, ao exílio - estavam obrigados a ir viver fora da Ática. Quanto aos rebeldes que haviam morrido na sedição, aplicou-se a mesma sentença: "Em julgamento público decidiu-se que, quanto aos rebeldes já sepultados, seus ossos fossem desenterrados e levados para fora dos limites da Ática" (⁵), a região da Grécia onde se encontrava Atenas. Vingança perversa? Não, apenas uma evidência de que, para um ateniense, a pior punição seria a imposição de estar longe de sua cidade, quer na vida, quer na morte. 
 
(1) Sólon morreu em c. 560 a.C.
(2) Os habitantes de Mégara, por exemplo, sepultavam os mortos com a cabeça direcionada ao Oriente, segundo Plutarco.
(3) Novamente, era o que acontecia em Mégara. 
(4) PLUTARCO, Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(5) Ibid. 


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