quarta-feira, 10 de abril de 2024

Como a notícia do fim da União Ibérica foi recebida na primeira capital do Brasil

No Século XVII, qualquer notícia que viesse de Portugal ao Brasil precisava fazer uma viagem marítima. De que outro modo seria?
Foi assim, portanto, que chegou ao vice-rei D. Jorge de Mascarenhas a informação de que não mais o monarca espanhol, e sim D. João IV, reinava em Portugal, segundo expressou Sebastião da Rocha Pita (¹):
"Governava neste tempo a Bahia com título de vice-rei de todo o Estado, [...] D. Jorge Mascarenhas, marquês de Montalvão [...]. Teve brevemente aviso da liberdade da pátria por uma pequena embarcação de Lisboa, cujo mestre saindo a terra e mandando-a fazer-se ao mar, se encaminhou ao palácio, e com segredo deu ao marquês vice-rei a nova da feliz aclamação, e lhe entregou a carta em que o senhor rei D. João IV lhe ordenava o fizesse aclamar no Brasil." (²) 
Ciente do que se passara no Reino, D. Jorge Mascarenhas reuniu as figuras de destaque entre autoridades eclesiásticas, civis e militares para que deliberassem se a ordem de aclamação seria ou não cumprida. Aclamar o novo rei português envolvia algum risco. E se, de algum modo, a Espanha recuperasse o controle? Como ficaria a carreira política, para não dizer a vida, das autoridades que haviam decidido pela aclamação? Segundo Rocha Pita, a reunião decidiu o caso a favor de D. João IV, que foi reconhecido como rei também no Brasil:
"[...] Feitas algumas breves disposições na infantaria, [D. Jorge Mascarenhas] saiu com os congregados e com o senado da Câmara aclamando o senhor D. João IV rei de Portugal, acompanhados do povo com repetidos vivas e gerais demonstrações de alegria, acabando o ato na catedral com ação de graças. [...]" (³) 
A Cidade da Bahia, ou Salvador, onde residia o vice-rei, era território português, mas, nesse tempo, grande parte do Nordeste brasileiro estava sob controle holandês. A luta para retomar para Portugal essa parte do Brasil ainda duraria vários anos - até 1654. 

(1) A primeira edição de sua História da América Portuguesa foi publicada em 1730. 
(2) PITA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa 2ª ed. Lisboa: Ed. Francisco Arthur da Silva, 1880, p. 144.
(3) Ibid. 


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