quarta-feira, 17 de abril de 2024

Como era a Agência de Correios na capital do Império do Brasil no tempo das Regências

Algum de vocês, leitores, já sentiu uma viva irritação porque uma mensagem enviada por smartphone a um amigo não foi lida imediatamente? Examine-se, por contraste, quanto tempo levava, nos dias do Império, para que qualquer correspondência chegasse às mãos do destinatário, com o agravante de que aquele que a enviava sequer sabia se seria ela efetivamente entregue a quem competia. 
Vejamos, então, como era o funcionamento do Correio Geral na capital do Império, o Rio de Janeiro. Uma informação detalhada se encontra no que escreveu Daniel P. Kidder, missionário metodista americano que esteve no Brasil durante o Período Regencial. Quanto à aparência e localização do Correio Geral, observou:
"[...] junto ao portão da Alfândega, fica o Correio Geral. A entrada faz-se por um amplo vestíbulo cujo piso é revestido de lajes. Dos soldados que estão em serviço, uns montam guarda pelo chão, outros dormitam sobre bancos, pelos cantos. Um único lance de escada conduz ao andar superior [...]."  (¹) 
Quem tinha correspondência a receber ia exatamente ao segundo piso:
"[...] À direita, por trás de um balcão alto, estão as cartas e os jornais do correio, não em caixas, por ordem alfabética, mas em montes, de acordo com a proveniência. Minas, São Paulo e outros lugares importantes. Para cada monte existem na parede listas numéricas de destinatários, sob os títulos de "Cartas de Minas", "Cartas de São Paulo", etc. A correspondência do exterior, com exceção da que se destina às casas comerciais que pagam uma taxa anual pela entrega em domicílio, é amontoada na mais completa desordem e quem chega primeiro tem o direito de examinar toda a vasta montanha, bem como de separar suas cartas e as de seus amigos. [...]" (²) 
Quanto tempo levava para uma carta ir de um ponto a outro do Brasil? Isso variava, dependendo da distância e das condições de transporte:
"[...] As malas maiores circulam por via marítima. [...] O transporte lento e tedioso das malas postais pelo interior é feito em lombo de burro ou por estafetas a pé. A tarifa postal é bem moderada. [...]" (³)
Com tanta desorganização e condições precárias de transporte, seria razoável supor que o serviço de correios deixasse muito a desejar. Kidder, porém, afirmou jamais ter tido uma correspondência extraviada, e quanto ao atendimento por parte dos funcionários, fez esta avaliação surpreendente:
"[...] No geral, as atenções que se recebem no Correio do Rio de Janeiro marcam feliz contraste com o tratamento grosseiro e desatencioso dispensado ao público em idênticas repartições norte-americanas." (⁴) 
(1) KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil, trad. Moacir N. Vasconcelos. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 65.
(2) Ibid., p. 65 e 66.
(3) Ibid., p. 66.
(4) Ibid., p. 66.


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