domingo, 13 de fevereiro de 2011

Os correios em São Paulo no ano de 1852


Se você quiser mandar alguma correspondência a alguém, deve deixá-la em alguma caixa de coleta, já devidamente selada, ou então deve levá-la diretamente a uma agência de correios. As caixas de coleta recolhem a correspondência a qualquer hora do dia ou da noite, já as agências de correios funcionam em horário específico. Mas nem sempre foi assim.
Se você vivesse em São Paulo na década de 1850, teria que ficar atento aos horários estabelecidos para as remessas postais, conforme sabemos por esse aviso que costumava aparecer no jornal Aurora Paulistana (*):


"PARTIDA DOS CORREIOS - Para a Corte pelas barcas de vapor - na véspera das partidas delas. Norte, e terrestre da Corte - 1, 6, 11, 16, 26 e 31. Interior por Sorocaba, Campinas e povoações marítimas ao sul de Santos - 2, 12 e 22. Linha de Bragança - 6, 16 e 26. Santos - 2, 7, 12, 17, 22 e 27.
A administração recebe a correspondência para os vapores até as 7 horas da tarde da antevéspera da partida, mas das 5 horas em diante o porte é dobrado.
Quanto às outras correspondências , são recebidas nos dias da partida das malas - as do norte até às 5 horas da tarde; e as outras até às 10 horas da manhã. O porte é dobrado 1 hora antes."
O que depreendemos disso?
a) A correspondência, no Brasil da metade do século XIX, podia seguir em embarcações a vapor ou por via terrestre (nas costas de mulas, portanto);
b) No primeiro caso, a ida da correspondência dependia da data em que as embarcações a vapor seguiam para a "Corte", ou seja, para o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época;
c) Quem queria  mandar uma carta precisava, de acordo com o destino, estar atento às datas disponíveis, já que havia poucos dias no mês em que a correspondência era remetida;
d) O fato de serem poucos os dias "de correio" a cada mês nos dá informações sutis a respeito das condições de transporte e comunicações no Brasil da época;
e) A informação de que, poucas horas antes do envio, o porte (valor dos selos) era dobrado, nos diz quão estafante supunha-se o trabalho dos funcionários em  recolher a imensa quantidade de correspondência que precisava ser enviada, naquele Brasil tão densamente povoado e alfabetizado de 1852, justificando o fato de haver um estímulo a que tudo fosse feito com antecedência... 
Só podemos concluir que, sendo o ritmo de vida muito mais lento do que hoje, as pessoas podiam enviar suas cartas, pessoais ou comerciais, sem o desespero que nos caracteriza atualmente por ver a informação chegar o quanto antes. Aliás, na maioria dos casos, não havia sequer a garantia de que, de fato, a correspondência chegaria ao destinatário.
Que me diz, leitor? Prefere carta ou e-mail?

(*) AURORA PAULISTANA, 1º de maio de 1852.


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