sexta-feira, 5 de abril de 2024

Abdicação de D. Pedro I

Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, 7 de abril de 1831. Em uma mensagem quase espartana, o primeiro imperador comunicava sua decisão de deixar o trono:
"Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e prezado filho, o Senhor D. Pedro de Alcântara.
Boa Vista (*), 7 de abril de 1831, décimo da Independência e do Império." 
"Mui voluntariamente"... D. Pedro teve juízo de não incentivar a animosidade entre as tropas, ao anunciar que deixava o trono do Império para retornar à Europa. Seu ato de abdicação, porém, ocorreu sob a pressão de um conjunto de fatores, dentre os quais:
  • A decisão de fechar a Assembleia Constituinte e outorgar uma Constituição desgastara bastante a imagem pública do jovem imperador, de quem se suspeitavam fortes tendências absolutistas;
  • A fama de D. Pedro, quanto à sua conduta moral, não era das melhores - eram famosos os seus muitos casos amorosos, dos quais o relacionado à Marquesa de Santos foi o mais escandaloso, mas nem de longe o único;
  • Deixando de lado a dignidade que se esperava de um imperador, D. Pedro se envolvera pessoalmente, até de forma literal, segundo alguns testemunhos, em atacar jornalistas que combatiam seu governo através da imprensa, 
  • Depois da morte de D. João VI em 1826, D. Pedro se envolvera cada vez mais nas questões da sucessão portuguesa, fazendo com que nascessem, no Brasil, suspeitas de que estaria pensando em chamar para si o trono português e unificar as coroas, uma coisa indesejada porque significaria o fim da independência política há pouco conquistada.
Muito mais poderia ser dito; contudo, já é suficiente para que se entenda que a abdicação não foi tão voluntária quanto o documento em que o imperador a comunicava poderia sugerir. 
Para o Brasil, começava uma fase de turbulência política ainda maior, o Período Regencial, já que o "muito amado e prezado filho, o senhor D. Pedro de Alcântara" era ainda um menininho de apenas cinco anos.  

(*) Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.


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