quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Fogo sagrado

O fogo sagrado foi elemento importante na religião de diversos povos da Antiguidade


Inúmeros povos da Antiguidade tiveram, entre suas práticas religiosas, a conservação do fogo sagrado, cuja origem era atribuída aos deuses ou a algum fenômeno natural, também de origem divina. Segundo palavras de Plutarco, ao traçar a biografia de Numa Pompílio (¹), "entre os povos de várias nações, existiu o costume de conservar, religiosamente, o fogo perpétuo que, em alguns lugares, foi até considerado de origem divina, para ser adorado." (²)
Apesar disso, às vezes o fogo supostamente eterno se apagava. Plutarco apontou, em Vitae parallelae, ter sido o caso em Delfos, durante as guerras contra os persas, porque o templo foi queimado - "o fogo profano extinguiu o sagrado" -, e em Roma, por ocasião da guerra contra Mitridates e também durante as guerras civis. A ira popular não poupou nem mesmo o altar em que ardia o fogo sagrado. 

No Egito

Nos templos dos antigos egípcios, como também nos de muitos outros povos, competia aos sacerdotes a conservação do fogo sagrado. Do templo mais próximo é que as famílias de cada localidade obtinham a chama para o fogo sagrado doméstico. Contudo, o fogo familiar não era, entre os egípcios, algo que se deveria manter aceso a qualquer custo. Era intencionalmente apagado quando alguém da casa morria, e depois aceso novamente, uma prática facilmente explicável pelas crenças dos egípcios quanto à vida após a morte. Procedimento semelhante ocorria a cada ano, quando se fazia a celebração geral em memória dos mortos.

Na Grécia

Os antigos gregos, ao menos em algumas localidades, além do fogo sagrado nos templos, tinham, por tradição, uma festa em que se acendiam fogueiras em algum lugar especial consagrado aos deuses. Nessas fogueiras eram oferecidos sacrifícios de animais, além de simulacros de pessoas - uma lembrança, talvez, dos sacrifícios humanos, felizmente assim substituídos por bonecos. 
No processo de expansão territorial que levou à formação da Magna Grécia, grupos de gregos deixavam uma localidade já insuficiente para a população e iam formar uma colônia. Na partida, levavam consigo o fogo que haviam acendido no templo da cidade de origem, e que deveria, na nova povoação, ser aceso no templo que se construísse, como um símbolo do vínculo perpétuo entre as cidades. 

Em Roma

As famílias patrícias de Roma conservavam, não só por religião, mas como fator de distinção social, um altar doméstico em cujo fogo eram oferecidos alimentos, supostamente para os ancestrais mortos, e diante do qual também se realizavam outras cerimônias. Na religião do Estado, porém, competia às vestais a conservação do fogo sagrado. No dizer de Plutarco, foi Rômulo, o lendário fundador da cidade, quem ordenou que "às virgens vestais competisse a manutenção permanente do fogo sagrado, embora muitos autores [romanos] tenham atribuído a consagração do fogo a Numa Pompílio." (³) 

(1) O segundo rei lendário de Roma, de quem se dizia ser um homem extremamente sábio e religioso.
(2) PLUTARCO, Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Ibid. 


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