Por que, na Antiguidade, atenienses tinham tanto interesse em vários campos do conhecimento, enquanto espartanos não se importavam com nada disso? Estrabão (¹), em sua Geografia, avaliou a questão desta maneira:
É curiosa a comparação de que o hábito do estudo se desenvolveria nos humanos por adestramento, de modo análogo ao treino ministrado aos animais para que fossem úteis no trabalho. Está aí uma questão que poderia muito bem resultar em debate acalorado. E se a esse treino ou adestramento chamássemos educação?
Eu diria ainda (talvez contrariando um pouco o que disse Estrabão), que, para ser reconhecido como filósofo na Antiguidade, era preciso estar no lugar certo, no tempo certo. Não é possível calcular quanta ciência se perdeu, porque algum filósofo ou filósofa (no sentido antigo) estava sozinho (ou sozinha) com seus pensamentos, olhando as estrelas enquanto cuidava de um rebanho ou lutando para manter o fogo aceso ao preparar alimento, ou simplesmente porque estereótipos de gênero impediam que cerca de metade da humanidade expressasse raciocínios e ideias próprias.
"Foi o hábito [dos estudos] que fez dos atenienses filósofos, enquanto espartanos não o foram, e nem mesmo os tebanos, que viviam tão perto de Atenas. Pela mesma razão, não é por natureza que babilônios e egípcios são filósofos, e sim por hábito e prática [de investigar, estudar]. O mesmo pode ser dito de cavalos, bois e outros seres vivos, cujas qualidades são resultado, não simplesmente do lugar em que vivem, mas do adestramento. [...]" (²)Quando Estrabão falava em "filósofo", não dava à palavra necessariamente o mesmo significado que hoje recebe. Ele pensava em alguém que buscava o conhecimento em todas as suas formas, que se interessava pelas ciências, pelas artes, incluindo a música, que, enfim, era amigo das letras. O campo de conhecimento que interessava ao filósofo da Antiguidade era imenso. Nesse sentido, atenienses e babilônios, citados por Estrabão, eram filósofos, mas se ocupavam de coisas distintas. Enquanto os homens de Atenas se interessavam pela política, pela ética, pela matemática e outros campos afins, os da Babilônia, que também eram ótimos matemáticos, perscrutavam o céu, sendo, ao seu modo, astrônomos, mas também astrólogos, um campo que hoje ninguém, sensatamente, poderia chamar de científico.
É curiosa a comparação de que o hábito do estudo se desenvolveria nos humanos por adestramento, de modo análogo ao treino ministrado aos animais para que fossem úteis no trabalho. Está aí uma questão que poderia muito bem resultar em debate acalorado. E se a esse treino ou adestramento chamássemos educação?
Eu diria ainda (talvez contrariando um pouco o que disse Estrabão), que, para ser reconhecido como filósofo na Antiguidade, era preciso estar no lugar certo, no tempo certo. Não é possível calcular quanta ciência se perdeu, porque algum filósofo ou filósofa (no sentido antigo) estava sozinho (ou sozinha) com seus pensamentos, olhando as estrelas enquanto cuidava de um rebanho ou lutando para manter o fogo aceso ao preparar alimento, ou simplesmente porque estereótipos de gênero impediam que cerca de metade da humanidade expressasse raciocínios e ideias próprias.
(1) c. 63 a.C. - 24 d.C.
(2) ESTRABÃO, Geografia. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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