Dificilmente alguém descreverá melhor os motivos que fizeram tantos colonizadores percorrerem o sertão à procura de indígenas, a quem aprisionavam e escravizavam, do que aquilo que se lê neste breve parágrafo escrito por João Severiano da Fonseca (¹):
"Atravessaram, muitas vezes, estes sertões vastíssimos d'além Paraguai, Pedro Domingues e Brás Mendes, capitão do seu terço, segundo Roque Leme, natural de Sorocaba, sempre em busca de índios, com a santa ideia de os livrar do pecado, chamando-os ao grêmio da religião de Cristo - e a torpe tenção de fazê-los escravos." (²)Portanto, sem rodeios, para acalmar a consciência e para dar uma aparência decente ao que faziam, apresadores de indígenas - não só os citados por Severiano da Fonseca, mas uma multidão de outros - alegavam que, arrancando-os das florestas em que viviam e obrigando-os a trabalhar como escravos, estavam dando a eles a oportunidade da catequese. Ora, desde quando tal coisa é cristianismo? E que cristianismo tinham para ensinar esses homens que roubavam a liberdade dos indígenas? Argumento hipócrita, certamente, mas havia quem acreditasse nele, ou, pelo menos, fingisse acreditar, porque parecia conveniente.
(1) Veterano da Guerra do Paraguai e integrante de uma expedição indicada para demarcar as fronteiras do Brasil com a Bolívia.
(2) FONSECA, João Severiano da. Viagem ao Redor do Brasil 1875 - 1878, Volume 1. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro e C., 1880, p. 41.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.