terça-feira, 27 de abril de 2021

Tacapes

Indígenas indo à guerra, de acordo com Debret;
o primeiro leva um tacape na mão direita (¹)

"Poti deu a seu irmão o arco e o tacape, que são as armas nobres do guerreiro. Iracema havia tecido para ele o cocar e a araçoia, ornatos dos chefes ilustres."
José de Alencar, Iracema

Tacapes, também chamados bordunas, eram armas indígenas muito versáteis, usadas na guerra  e na caça. Bem manejado, o tacape poderia abater, de um só golpe, um inimigo, quer em campo de batalha, quer nas execuções rituais, que muitas vezes precediam a antropofagia. Neste último caso, dava-se ao prisioneiro o direito de uma defesa simulada, ainda que totalmente inofensiva. Podia manejar, quanto quisesse, a arma oferecida, mas seria invariavelmente abatido, com um golpe que lhe esfacelaria o crânio, pelo valente que, a partir de então, poderia contá-lo entre os heróis que vencera. 
Em Guarani, há uma bela passagem em que José de Alencar retrata essa situação, ainda que - romance é romance - dessa vez o prisioneiro tenha saído astutamente vencedor, e escapado:
"Com efeito esse oferecimento que os selvagens faziam ao prisioneiro de uma arma para se defender, era uma ironia cruel; ligado pelo laço que o prendia, imóvel pela tensão da corda, o mais que podia fazer o seu braço era vibrar o tacape no ar, sem poder tocar os seus inimigos.
[...]
O velho Aimoré vacilou; seu braço que vibrava o tacape com uma força hercúlea, caiu inerte; o corpo abateu-se como o ipê da floresta cortado pelo raio."
Querem saber, leitores, em que deu a situação? Leiam a obra toda de Alencar.

Tacapes ou bordunas (²)

(1) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Os tacapes vistos nesta foto pertencem ao acervo do Memorial dos Povos Indígenas (Brasília - DF).

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