Faz algum tempo, ouvi um idoso relatar que, quando menino, aprendeu na escola a fazer entalhes em madeira, nas aulas de trabalhos manuais. Em outra ocasião, uma senhora, também bastante idosa, explicou-me que na escola primária que frequentara quando menina havia um horário reservado, a cada semana, para o ensino de bordado e outros trabalhos de agulha. É bom considerar, leitores, que isso acontecia quando, na maioria das escolas, as classes eram separadas por sexo.
Na edição de janeiro de 1905, a revista Echo Phonographico trouxe um anúncio de "serras de educação", cujo uso era, provavelmente, destinado às aulas de trabalhos manuais:
"Útil, instrutiva e interessante invenção. Própria para meninos e meninas. Constitui um interminável divertimento. Não exige experiência ou perícia. Qualquer pessoa pode usar este aparelho. Fabricado em 3 tamanhos." (¹)
A imagem algo precária que acompanhava o texto mostra que devia ser uma espécie de serra tico-tico (serra de arco) manual:
"As Serras de Educação são as melhores que se encontram no mercado. [...] Cada serra é acondicionada numa bonita caixa com indicações completas para o seu uso, contendo 28 peças, a saber: 1 armação da serra; 1 sovela; 1 folha de papel de lixa; seis lâminas de serra; 15 modelos; uma folha de papel de impressão; 1 fita V; 2 parafusos." (²)
Suponho que um estabelecimento de ensino que resolvesse adotar o uso de pequenas serras para trabalhos com madeira e/ou outros materiais deveria ter uma oficina adequada para as aulas. Não seriam muitas, evidentemente, as escolas assim, mas além de fundamentos de marcenaria, muitas outras tarefas poderiam ser aprendidas ao longo dos anos escolares, em um claro reconhecimento do valor de atividades práticas na formação de crianças e adolescentes. No mínimo, as aulas poderiam resultar na aquisição de um hobby muito útil, constituindo-se, também, em um complemento aos estudos tradicionais em outras disciplinas. É uma pena que, por razões que não discutiremos agora, essa ideia tenha, com o tempo, desaparecido quase por completo. Poderia retornar, adequada ao nosso século, é claro.
(1) ECHO PHONOGRAPHICO, Ano III, nº 35, Janeiro de 1905, p. 11.
(2) Ibid.
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