terça-feira, 1 de outubro de 2019

Um prodígio vegetal que abalou Roma

De acordo com Tito Lívio (¹), historiador romano da Antiguidade, os pontífices tinham, em Roma, as atribuições de zelar pela conservação dos templos e pela realização de sacrifícios aos deuses, aplacar a alma dos defuntos (para que não andassem perturbando os vivos) e fazer expiação quando ocorressem prodígios (²). Deve-se presumir, por conseguinte, que estiveram muito ocupados em 59 d.C., diante de um suposto prodígio que parecia sinalizar, literalmente, um abalo das raízes de Roma. Tácito registrou no Livro XIII dos Annales:
"Neste ano a árvore Ruminal, que existia no lugar dos comícios e que há oitocentos e quarenta anos protegera a infância de Rômulo e Remo, depois que seus ramos secaram, começou também a secar no tronco, fato que se considerou prodígio desfavorável, até que reviveu com novos brotos." (³)
Vamos falar sério, leitores: é improvável que a árvore em questão fosse a mesma dos dias de Rômulo e Remo, isto é, admitindo-se que esses ilustres senhores tenham, de fato, existido, e não sejam apenas figuras lendárias. Uma árvore após outra talvez tenha ocupado o lugar da mitológica árvore sagrada, mas, quando se quer acreditar ou, quando em benefício da estabilidade do poder, é conveniente acreditar, afirma-se, e pronto: assim é que ficou sendo a árvore da infância de Rômulo e Remo. Supersticiosíssimos, os romanos devem ter imaginado que Roma estava por um fio (ou por uma folha, um galho, um tronco, uma raiz). Brotando a árvore, Roma estava salva.

(1) 59 a.C. - 17 d.C.
(2) Cf. Ab urbe condita libri.
(3) c. 47 d.C. 120 d.C.


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