Xerxes, rei dos persas - foi o que disse Heródoto (¹) - chorou, ao pensar que, em um século, nada restaria da esplêndida máquina de guerra que formara. A choradeira real teria ocorrido antes que começasse a luta contra os gregos, em uma ocasião em que a vaidade do monarca persa resultara na exigência de um combate simulado, para que, em um trono de mármore branco colocado em um promontório, pudesse ver as forças a seu dispor, tanto no mar quanto em terra. Estava presente um tio de Xerxes, que ao perguntar pelo motivo de tal demonstração pública de abalo emocional, obteve esta resposta: "A visão de minha armada fez brotar em mim um sentimento de tristeza pela brevidade da existência humana, ao pensar que desta multidão nem um só homem existirá dentro de cem anos."
Não se enganem, leitores. Xerxes foi um típico monarca de sua época, ambicioso, prepotente e cruel. Embora não saibamos se em todos os detalhes os fatos foram assim, podemos considerar que o relato de Heródoto não é incoerente com a realidade contemporânea.
Séculos mais tarde, Sêneca, o filósofo estoico do Império Romano (²), faria menção ao episódio do choro de Xerxes - certamente leu Heródoto - ao fazer suas próprias considerações quanto à brevidade da vida (³): "O rei dos persas, que era muito arrogante, espalhou seu exército por tão vasto terreno, a ponto de ser impossível saber a quanto chegava o número de seus soldados, e chorou ao pensar que dentro de cem anos ninguém, dentre tantos jovens, estaria vivo, embora fosse ele quem em breve iria conduzi-los à morte, quer em terra ou no mar, quer em combates ou em retiradas, e se acabrunhava pelo que sucederia um século mais tarde." (⁴)
Lágrimas de crocodilo, as de Xerxes. Chorava pelos que iam morrer, e era ele mesmo quem os mandava tão cedo para a morte. Ao rei persa, caberia apenas o atenuante de que, nesse sentido, não foi o único de sua espécie. Outros como ele continuam a aparecer até hoje.
(1) Histórias, Livro VII.
(2) Nascido na Espanha, foi professor e conselheiro do imperador Nero.
(3) Da brevidade da vida. Sêneca não achava que a vida humana era breve; entendia que não era devidamente aproveitada.
(4) Os trechos citados das obras de Heródoto e Sêneca foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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