Tratando da ascensão e declínio de impérios, Heródoto de Halicarnasso observou, em Histórias, que "aqueles que foram grandes no passado vieram a ser, posteriormente, muito pequenos; por outro lado, muitos que eram pequenos chegaram, em nosso tempo (¹), a ser grandiosos. Isso me convenceu de quão inconstante é o poder e de que tudo o que se relaciona à humanidade nunca se mantém imutável..." (²)
Esse pensamento era perfeitamente apropriado a quem pretendia, entre outras histórias, contar como é que os gregos, segundo todas as aparências, fragilizados pelas divisões e lutas internas, haviam temporariamente superado suas rivalidades, chegando a derrotar o Império Persa, que se supunha imbatível; ao mesmo tempo, o falante narrador de Halicarnasso apontava as encrencas dentro da própria Grécia como uma grande ameaça, visto que, num futuro não muito distante, vizinhos poderiam lançar sobre ela olhares cobiçosos, a tal ponto que a independência, que os gregos tanto prezavam, iria por água abaixo. Os leitores que conhecem um pouco de História sabem, com certeza, que nesta questão Heródoto estava certíssimo.
Impérios grandes declinam... Povos insignificantes alcançam as alturas. Não é difícil pensar em exemplos para ambas as situações. O Antigo Egito esteve no topo do cenário político em sua região por muitos séculos; menos duradouro, mas tão poderoso quanto, ou até mais, o Império Assírio aterrorizou os vizinhos; babilônios, persas, macedônios, romanos - se tentarmos enumerar as grandes forças do passado iremos muito longe, apenas citando aqueles povos de maior relevância para as origens civilização ocidental. Qual seria a dimensão da lista de déssemos um passeio histórico pelo Extremo Oriente? Reinos, impérios, civilizações, que começaram quase imperceptíveis, chegaram a ter amplo domínio, depois declinaram, alguns de um mal súbito, outros lentamente. Para alguns, restou apenas a sobrevivência. Outros, só para história e arqueologia.
Por outro lado, o que pensariam os romanos, se alguém lhes dissesse, talvez nos dias de César, que, num futuro não tão distante, os bárbaros, a quem desprezavam, seriam os novos senhores de parte considerável da Europa e mesmo do norte da África? Que diriam os grandes almirantes, cujas esquadras exploraram os oceanos nos Séculos XV e XVI, se soubessem que uns centênios minguados seriam suficientes para que, de terras pouco povoadas e recém-descobertas (³), nascessem países independentes, alguns com status de potências?
É óbvio que as causas para a ascensão e queda de impérios são altamente complexas, e não podem ser reduzidas a um único fator ou à vontade de uma só pessoa. Tampouco acontecem do dia para a noite, sendo, ao contrário, sutilmente desenvolvidas, sem que os controladores - a que chamamos governantes - tenham disso uma percepção muito clara. Uma questão interessante, não contemplada pelo pensamento de Heródoto, talvez proporcione um debate nada desprezível: Pode um Estado, que já teve seu auge de poder e declinou, voltar à posição de domínio perdida? Os exemplos históricos não parecem muito animadores...
(1) No tempo de Heródoto, claro: Século V a.C.
(2) O trecho citado da História de Heródoto é tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Assumindo, neste caso, a visão dos descobridores/exploradores europeus.
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(3) Assumindo, neste caso, a visão dos descobridores/exploradores europeus.
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