sexta-feira, 17 de julho de 2015

Hortaliças cultivadas na Bahia no Século XVI

Como parte de seu Tratado Descritivo do Brasil em 1587, Gabriel Soares incluiu uma lista dos cultivos comuns na Europa que se adaptavam bem ao Brasil. Melhor: se devemos dar algum crédito ao seu relato, os ditos vegetais adaptavam-se bem demais!... 
Para recreação dos senhores leitores, vão aqui alguns trechos especialmente selecionados (*):

"Pepinos se dão melhor que nas hortas de Lisboa, e duram quatro e cinco meses os pepineiros, e dão novidade que é infinita, sem serem regados, nem estercados."

"Abóboras das de conservas se dão mais e maiores que nas hortas de Alvalade, das quais se faz muita conserva e as aboboreiras duram todo um ano sem se secarem, dando sempre novidades mui perfeitas."

"Melancias se dão maiores e melhores que onde se podem dar bem em Espanha, das quais se fazem latadas que duram todo o verão verdes, dando sempre novidades, e faz-se delas conserva mui substancial."

"Nabos e rábanos se dão melhores que entre Douro e Minho; os rábanos queimam muito, e dão alguns tão grossos como a perna de um homem [sic], mas uns e outros não dão semente senão falida e pouca, e que não torna a servir."

"Alfaces se dão à maravilha de grandes e doces, as quais espigam e dão semente muito boa."

"Coentros se dão tamanhos que cobrem um homem [sic], os quais espigam e dão muita semente."

"À hortelã têm na Bahia por praga nas hortas, porque onde a plantam lavra toda a terra e arrebenta por entre a outra hortaliça."

"Alhos não dão cabeça na Bahia, por mais que os deixem estar na terra, mas na Capitania de São Vicente se faz cada dente que plantam tamanho como uma cebola em uma só peça [sic], e corta-se em talhadas para se pisarem."

"Berinjelas se dão na Bahia maiores e melhores que em nenhuma parte, as quais fazem grandes árvores [sic], e torna a nascer a sua semente muito bem."

"Agriões nascem pelas ruas onde acertou de cair alguma semente, e pelos quintais quando chove [...]."

"Manjericão se dá muito bem de semente, mas não se usa dela na terra, porque com um só pé se enche todo um jardim [sic] [...]."

Chega, não?
Sim, a terra era promissora, apenas começava a ser cultivada, não havia invernos rigorosos e, de fato, em muitos lugares a produção era boa, mas não há como negar que, ao menos nesta questão das hortaliças, o senhor Gabriel Soares usou, no melhor dos casos, de certo exagero. Para não dizer outra coisa. 

(*) Todas as citações foram extraídas da seguinte edição: SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, pp. 158 - 161.


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