Faz parte do abc de História nas escolas: o Brasil foi, durante muito tempo, um país economicamente dependente da exportação de produtos agrícolas.
Ora, assim falando, até parece que as ditas exportações eram um grande sucesso. Não era esse o caso, porém.
Em um livrinho escrito pelo Barão de Paty do Alferes (¹), datado de 1847, encontramos esta observação:
"Se o nosso café, o nosso açúcar, o algodão e outros gêneros, tivessem chegado a ganhar nas outras partes do mundo aquele conceito que têm ganho os produtos de outras nações, certamente não estariam meses e anos nos depósitos europeus sem saída." (²)
Situação lamentável! A que se devia?
A produção brasileira era reputada, internacionalmente, como sendo de má qualidade, quando comparada à oferta da concorrência. Latifundiários achavam que a quantidade era tudo o que interessava, mas estavam, como fica claro, incorrendo em erro. Apresentavam as mercadorias a preços relativamente baixos, mas isso não era suficiente para garantir compradores. O mercado exigia qualidade, e isso o Brasil da época não tinha a oferecer, nem mesmo em se tratando da produção da lavoura.
Verdade é que, nas décadas subsequentes, a conjuntura internacional até seria, em alguns aspectos, favorável. A título de exemplo: durante a Guerra da Secessão as exportações de algodão dos Estados Unidos despencaram, abrindo uma oportunidade para a produção algodoeira do Brasil. No entanto, o crescimento nas vendas foi meramente temporário, sem que houvesse uma política para firmar o produto, em caráter definitivo, nos grandes mercados.
Escravos carregando sacas de café, de acordo com Debret (³) |
A questão incômoda é que, com cara de Século XXI, alguns desses problemas estruturais persistem até hoje.
(1) Francisco Peixoto de Lacerda Werneck.
(2) WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda. Memória Sobre a Fundação e Custeio de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro 2ª ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1863, p. 78.
(3) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2. Paris: Firmin Didot Frères, 1835. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
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