A alimentação de monçoeiros - pobres ou ricos - foi assunto da postagem anterior. Houve, no entanto, exceções à regra absolutamente notáveis. Uma delas foi o excelentíssimo senhor governador capitão-general Dom Rodrigo César de Meneses, obrigado, por ordens de Sua Majestade, o rei de Portugal, a deixar São Paulo, empreendendo a duríssima viagem até Cuiabá, isso em 1726.
Acontece que esse homem não era daqueles que perderiam a pose, mesmo metido em estreita embarcação meses a fio. Por isso, levou consigo gente que cuidasse de tornar sua vida tão cômoda quando fosse possível e, naturalmente, farta matalotagem para satisfazer-lhe o voraz apetite. Seu secretário, Gervásio Leite Rebelo, teve o cuidado de tudo registrar com o máximo critério, de modo que eis aí a lista de tudo o que se embarcou para alimentação específica do governador, assegurando-lhe não ser torturado, diariamente, com o mesmíssimo virado à paulista que se preparava para os demais:
Grãos (não se especificam quais) ............................................ 4 alqueires
Aletria ............................................................................................ 7 arrobas
Cuscuz .......................................................................................... 4 arrobas
Manteiga ....................................................................................... 7 arrobas
Peixe seco ................................................................................... 4 arrobas
Doces ........................................................................................... 8 arrobas
Chocolate ..................................................................................... 4 arrobas
Marmelada ................................................................................... 144 caixas
Biscoitos ....................................................................................... 6 barris
Paios ............................................................................................. 2 barris
Queijos .......................................................................................... 60 unidades
Azeite de oliva ............................................................................. 5 barris
E, para que o digno representante de sua majestade "matasse a sede", embarcaram-se também:
Vinho .............................................................................................. 8 barris
Aguardente do Reino, ou seja, de uva ...................................... 8 frasqueiras
Aguardente da Terra, ou seja, de cana-de-açúcar .................. 3 barris
Para os demais integrantes da dita monção, foi embarcada uma grande quantidade de farinha (150 alqueires de farinha de milho e 100 de farinha de mandioca, além de 23 alqueires de farinha de trigo, o que era pouco usual), 65 alqueires de feijão e 12 porcos.
Ainda assim, o estrito secretário de Dom Rodrigo César de Meneses registrou que o fim da viagem, concluída a 15 de novembro de 1826, se fez sob muita falta de alimentos, a ponto de os remadores estarem bastante enfraquecidos. Nenhuma surpresa, já que eram eles que realizavam o mais árduo trabalho e os que, com frequência, menos cuidados recebiam.
Veja também:
- Alimentos que os monçoeiros levavam em viagem pelo Tietê e outros rios
- Cobras, lagartos e outros bichos - De que se alimentava a população das minas coloniais quando faltava comida
- Animais na História do Brasil (Parte 4): Churrasco de anta
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