terça-feira, 20 de setembro de 2011

Animais na História do Brasil (Parte 6): A capivara

"O sol deitou-se, e de novo se levantou no céu. Os guerreiros chegaram aonde a serra quebrava para o sertão; já tinham passado aquela parte da montanha, que por ser despida de arvoredo e tosquiada como a capivara, a gente de Tupã chamava Ibiapina."
                                                                                                                          José de Alencar, Iracema

Hans Staden descreveu a capivara como sendo um animal que podia viver tanto na água como sobre a terra. Tinha, segundo ele, o tamanho superior ao dos cordeiros, a cabeça parecida com a de uma lebre e orelhas curtas, pernas altas proporcionalmente ao corpo, pelo escuro, três unhas em cada uma das patas e, ressaltava, a carne semelhante à de porco. É recorrente, em diversos autores, a visão dos animais meramente como caça, para alimentação, fato a que já me referi nas postagens anteriores.

Capivara pastando à margem de um lago

Compelido a viajar pela rota das monções em 1751, o Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim, deixou anotada uma observação sobre a caça às margens do Tietê:
"De caça de pele neste rio só pacas e capivaras. As primeiras são do tamanho de um leitão, com os pés curtos, o pelo como de cão pardo-escuro. Das outras o feitio é de rato, principalmente o da cabeça; o pelo na aspereza é de porco, mas pardo; são do tamanho de um marrão, e o gosto não é bom; a paca sim é mui gostosa." (¹)
Os leitores podem recordar-se de que, em postagens anteriores desta série, outros viajantes relataram uma diversidade bem mais significativa de animais "caçáveis" às margens do mesmo Tietê. O que teria ocorrido em tão breve intervalo de tempo, fazendo com que os animais desaparecessem? Talvez seja possível aplicar também neste caso as palavras do Padre Ayres de Casal, ao referir-se à desaparição de aves chamadas guarás no Maranhão:
"As espingardas têm feito maior destruição nestes viventes em três séculos do que as taquaras dos indígenas em toda a antiguidade." (²)

(1) TAUNAY, Affonso de E. História das Bandeiras Paulistas tomo 3, 3ª ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975, pp. 201 e 202.
(2) Corografia Brasílica, vol. 2, 1817, p. 263.


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