domingo, 25 de setembro de 2011

Animais na História do Brasil (Parte 8): Preguiças

Preguiça com filhote (²)
As preguiças recebem o nome de preguiças porque nos parecem, afinal, preguiçosas! É como se vivessem em perpétua câmera lenta. Há uma bem conhecida lenda que conta que uma preguiça, estando na floresta quase ao nível do chão, viu uma belíssima fruta no alto de uma árvore. Tal fato aguçou-lhe o apetite, de modo que ela começou a escalar a dita árvore, mas à sua maneira, pre-gui-ço-sa-men-te. Finalmente, alcançou seu alvo, mas ao tocar a fruta, esta caiu prontamente ao solo. Estava podre. Por quê? A preguiça havia gasto tanto tempo na subida que, nesse intervalo, a tão apetitosa fruta completara seu ciclo de maturação, ficando pronta para liberar as sementes. Exagero à parte, isso dá uma ideia de quão velozes são as preguiças, ou, se quisermos ser justos, de quão velozes seu metabolismo permite que sejam.
Ora, perversamente, em sua aparência esses bichos têm algo de humanoide, logo eles a quem nomeamos por um dos piores defeitos que alguém poderia ter, um dos sete pecados capitais. Basta ver como olham, como se movem, como carregam os filhotes. No século XVII, Frei Vicente do Salvador, em sua História do Brasil, escreveu:
Preguiça-de-costas-pretas (²)
"Outro animal há a que chamam preguiça, por ser tão preguiçoso e tardo em mover os pés e mãos, que para subir a uma árvore ou andar um espaço de vinte palmos há mister meia hora, e posto que o aguilhoem, nem por isso foge mais depressa."
Tal descrição pode fazer supor que as preguiças são seres frágeis, facilmente capturáveis. Nem sempre. Este exemplo é ótimo: a preguiça, ainda que mui preguiçosa, foi veloz o bastante para fazer suas lindas garras escaparem das unhas dos taxidermistas da expedição Langsdorff, conforme escreveu Hércules Florence, estando próximo à embocadura do rio Juruena:
"Foi aí contudo que agarramos uma preguiça, que atravessava o Juruena. Metemo-la numa canoa e à noite a amarramos a uma árvore: de manhã, porém, desaparecera." (¹)

(1) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 222.
(2) WIED-NEUWIED, M. v. Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens.


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