quinta-feira, 10 de junho de 2021

Pedro de Alvarado

Nascido em Badajoz em 1485 - antes, portanto, que Colombo chegasse à América pela primeira vez - Pedro de Alvarado foi membro importante do bando de aventureiros comandados por Hernán Cortés na invasão do Império Asteca. Foi responsável direto pelo incidente que provocou o levante da população de Tenochtitlán (¹) e resultou na fuga dos invasores, episódio que ficou conhecido como a "noite triste". Sim, triste, ao menos para os espanhóis (²), que perderam muitos companheiros, cavalos e armas, além da maior parte do ouro que tentavam conduzir para fora da grande cidade.
Mais tarde, após voltar à capital asteca e, finalmente, conquistá-la, Hernán Cortés decidiu que era hora de expandir os domínios espanhóis na América e, por essa razão, enviou grupos de soldados para outras áreas. Deviam "pacificar" indígenas, fazendo-os jurar lealdade ao rei da Espanha e, muito importante, deviam tomar informações sobre a existência de jazidas de metais preciosos que pudessem ser exploradas. Um desses grupos, sob o comando de Pedro de Alvarado, seguiu para a Guatemala. Não é ocioso questionar se Cortés, com alguma dificuldade para se equilibrar como chefe supremo dos invasores, não chegaria, afinal, a ter medo do impetuoso Alvarado, que já se notabilizara pela extrema crueldade - daí, portanto, a ideia de mandá-lo para longe.
Sabe-se, pelos escritos de Bernal Díaz del Castillo (³), que antes da partida, Cortés deu a Alvarado instruções explícitas quanto ao modo de se conduzir na região para onde seguia: "[...] mandava a Alvarado que com toda a diligência procurasse atrair [os indígenas] pela paz, sem fazer-lhes guerra, e que com certos intérpretes que levava, frei Bartolomé de Olmedo (⁴) lhes pregasse as coisas relativas à nossa fé, e que não lhes consentisse sacrifícios (⁵), nem sodomias e nem roubos uns aos outros, que as cadeias e redes que achasse feitas, em que costumam ter índios aprisionados para engordar e comer, que as quebrasse,  que os tirasse das prisões, e que com amor e boa vontade os atraísse para que prestassem obediência a Sua Majestade e em tudo lhes fizesse bons tratamentos [...]" (⁶). 
Fossem essas instruções dadas como mera formalidade ou não, parece que Pedro de Alvarado não julgou conveniente tê-las em conta. É o que se depreende de suas ações. Um incidente, apenas, relacionado ao modo como lidou com um cacique indígena que se opunha aos invasores, será suficiente para demonstrar o padrão de sua conduta: "[...] mandou prender o cacique daquela povoação e por sentença mandou queimá-lo. Frei Bartolomé de Olmedo pediu a Alvarado que queria ver se poderia ensiná-lo e pregar-lhe a fé de Cristo para batizá-lo; e o frade pediu um dia de prazo, e não o fez em dois, mas ao fim quis Jesus Cristo [sic] que o cacique se fizesse cristão, e foi batizado pelo frade, e pediu a Alvarado que não o queimassem, e sim que o enforcassem, e Alvarado concordou [...]" (⁷). Quanta caridade!
Não se enganem, meus leitores: assim marchavam na América, muitas vezes de mãos dadas, a conquista e a catequese.

(1) Capital do Império Asteca.
(2) Espanhóis eram predominantes no grupo liderado por Hernán Cortés, ainda que houvesse entre eles soldados de várias nacionalidades.
(3) Na época da conquista do México, era um jovem soldado. Muito tempo mais tarde, escreveu um relato pormenorizado dos acontecimentos que culminaram na destruição do Império Asteca.
(4) Religioso católico que acompanhava a expedição.
(5) Referência a sacrifícios humanos.
(6) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias
(7) Ibid.


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