quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Escrevendo como César Augusto

Graças a Suetônio (¹), é possível saber detalhes curiosos da vida dos primeiros imperadores romanos, os Césares - sim, admitindo que suas informações sejam verdadeiras, e não um exercício de imaginação. Mas, se havia alguém em Roma que poderia investigar a documentação oficial em busca de material interessante para escrever, esse era Suetônio, que exerceu cargos importantes que lhe davam acesso aos arquivos do Império e à vida palaciana, acesso esse que chegou às bordas da indiscrição. Foi assim que nasceu De vita Caesarum, e é assim que tomamos conhecimento dos hábitos e manias de Augusto (²) quando o assunto era escrita.
Alguém de vocês, leitores, tem alergia às regras de ortografia? Augusto também tinha, a ponto de Suetônio pensar que era partidário da ideia de que se deve escrever tal qual se fala, e não segundo os padrões estipulados pelos gramáticos. Convenhamos: esse sujeito estava, ao menos quanto a tal assunto, mais para o Século XXI que para o tempo em que viveu. 
Ainda assim, tomou especial interesse na alfabetização de seus netos, a ponto de, sempre que possível, ir ele mesmo ensiná-los. Mas, para quem achou que esse era simplesmente um avô carinhoso, vai aqui uma mania: tentava ao máximo fazer com que os meninos imitassem sua própria caligrafia. Quanto a Agripina, sua neta, em uma carta elogiosa recomendava que, quer falando, quer escrevendo, fugisse de toda afetação. Sábio conselho, não é verdade?
Contudo, o imperador, que sofria com a saúde debilitada, tinha também alguma dificuldade para escrever, já que o dedo indicador da mão direita, particularmente em dias frios, não tinha o movimento normal. Estando assim, chegava a reforçar o dedo com um anel de chifre, a fim de poder escrever o indispensável. Se Augusto tinha todas as doenças que Suetônio lhe atribui, devia, provavelmente, sentir dores contínuas.

(1) Caio Suetônio Tranquilo, 69 - 141 d.C.
(2) Imperador entre 27 a.C. e 14 d.C.


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2 comentários:

  1. Escrever como se fala, como pretendem certas mentes iluminadas do século XXI, até pode ser que faça escola. Quanto a mim, é mais um tiro no pé do que outra coisa. Sem muito adiantar, pois o tema daria pano para mangas, sempre adianto que a facilidade sempre foi a principal razão do declínio de qualquer ideia, qualquer conceito, qualquer cultura, qualquer civilização...

    Um bom domingo, Marta :)

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    1. As regras se impõem por convenção. Quanto a escrever "como se fala", seria um problema, já que cada ser humano, afinal, tem seu próprio jeito de falar. Seria uma louca confusão...Gastaríamos mais tempo decifrando a escrita do que entendendo o que se quis transmitir com ela.

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