quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Raios, Augusto!

A invenção do para-raios, poupando, em consequência, muitas vidas, somente aconteceu no Século XVIII, quando os deuses romanos, com seus raios fulminantes, eram, há muito, coisa do passado. Os que viveram antes disso tinham, portanto, ainda mais motivos para temer as tempestades, que aqueles que vivem hoje.
César Augusto pode ter sido valente na luta contra Marco Antônio, e foi, sem dúvida, um político habilidoso ao tratar com as sensibilidades do Senado romano. Se não foi perfeito - ninguém é - soube, ao menos, conduzir Roma para tempos de alguma ordem, depois das turbulências dos triunviratos. Mas, quanto a Augusto, há mais uma certeza: tinha medo de raios, e levava a sério os cuidados para que os deuses mantivessem bem longe essas poderosas descargas elétricas que enchem a atmosfera terrestre de luz. Bem, é claro que Augusto não sabia que os raios eram isso. Apenas tinha medo deles e cria que vinham dos deuses durante crises de mau humor.
No Livro II de De vita Caesarum, Suetônio contou que, sob instrução dos arúspices, Augusto fez construir um templo no monte Palatino em honra de Febo/Apolo. A alegação dos adivinhos profissionais de Roma é que o deus mandara um raio àquele lugar para indicar que era ali que desejava ser invocado. Brilhante conclusão!
Há mais: o próprio Augusto, em certa ocasião, escapou por muito pouco de ser atingido por um raio. O imperador fazia uma viagem noturna, carregado em uma liteira, quando, durante uma tempestade, um raio caiu muito perto dele. Agradecido por sobreviver incólume, fez consagrar um templo em honra de Júpiter Tonante. Um detalhe, também lembrado por Suetônio, não deve passar despercebido: o escravo que ia à frente da liteira de Augusto, carregando uma lanterna para iluminar o caminho, não teve a sorte do imperador. Foi ele a vítima do raio, e morreu na mesma hora.


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