Na data em que escrevo esta postagem (dia 18 de março de 2014), um forte temporal acaba de atingir a cidade de São Paulo, causando grandes estragos, quer por obra das inundações, quer em decorrência de ventos muito fortes.
Ora, meus leitores, não é a primeira vez que trato, aqui em História & Outras Histórias, de grandes tempestades ocorridas no passado. Para os propósitos do assunto de hoje, mencionarei três.
Auguste de Saint-Hilaire relatou, com estas palavras, um temporal notável que presenciou no Rio Grande do Sul, isso em 13 de abril de 1821:
"Horas antes do pôr do sol, o tempo se cobriu de negras e espessas nuvens, seguindo-se um furacão, o mais terrível experimentado em minha vida. Fazia tanta escuridão, que mal dava para ler: de todos os lados o céu era cortado de relâmpagos; as trovoadas se sucediam sem interrupção, o rugido do vento sul sobrepujava ainda o ruído do trovão por sua violência. Encontrava-me então na sala do meu hospedeiro, em companhia do pequeno Diogo. A janela e a porta estavam abertas, tudo quanto se achava sobre a mesa foi levado pelo vento; apressei-me em fechá-las, mas nesse instante, parte do telhado foi arrancado e, apesar da casa ser nova, um pedaço do muro, construído com barro e tijolo, foi derrubado pelo furacão e amontoado inteiramente por cima de algumas de minhas malas. A água caía torrencialmente dentro de casa e os fragmentos de telha voavam ao redor de mim. Já estava ferido na coxa e, temendo mais graves acidentes, fui proteger-me no quarto vizinho; mas o achei descoberto e igualmente inundado como a sala. Entrei num pequeno quarto vizinho, onde encontrei as mulheres da casa, comprimidas umas às outras, e que, tremendo, invocavam fervorosamente proteção aos céus. Ao fim de sete ou oito minutos, a violência do furacão havia diminuído um pouco; voltei à sala, trouxe as malas que estavam mais expostas à chuva, procurando resguardá-las no quarto adjacente." (¹)
Sabe-se, também, que em São Paulo, o ano de 1850 teve um infeliz começo, tudo por obra de um grande temporal que abalou a cidade:
"A 1º de janeiro de 1850 desabou sobre a cidade enorme tromba d'água motivando o arrombamento dos açudes e a inundação do vale do Anhangabaú. Verdadeiro dilúvio, durou seis horas, carregando a ponte do Açu, e arrasou diversas casas causando algumas vítimas." (²)
O terceiro e último evento devastador a que farei referência ocorreu em Resende (RJ), conforme relato de Augusto-Emílio Zaluar, e destruiu por completo o prédio novo que se fizera, então, para a Santa Casa de Misericórdia daquela localidade:
"O edifício atual não tem as dimensões e os cômodos que um estabelecimento desta ordem exige, sobretudo prestando os serviços que esta casa de caridade tem continuamente prestado. O edifício novo que se estava construindo para este fim, quando já se achava coberto com o telheiro, foi o ano passado destruído por um forte temporal que o desmoronou até os alicerces."(³)
Pois bem, como os senhores leitores podem ver, eventos climáticos extremos não são novidade. Mesmo em tempos em que a população era menor e, por consequência, menores eram também as vilas e cidades, os estragos podiam ser grandes. Não é, pois, necessário, que uma tempestade sobrevenha a uma metrópole, para que os danos sejam significativos.
Mas há ainda uma outra consideração que bem cabe aqui. Sim, tempestades sempre aconteceram - mas não com a frequência das da atualidade. O que deveras chama a atenção não é tanto a velocidade dos ventos, o volume das águas, o número de árvores que vêm abaixo e sim o fato de que tais fenômenos estão se tornando corriqueiros - pra falar a verdade, em certas épocas do ano acontecem quase todo dia. Corremos o risco de achar tudo isso "normal", em lugar de nos propormos a uma reflexão mais profunda sobre os rumos deste planeta que habitamos.
Auguste de Saint-Hilaire relatou, com estas palavras, um temporal notável que presenciou no Rio Grande do Sul, isso em 13 de abril de 1821:
"Horas antes do pôr do sol, o tempo se cobriu de negras e espessas nuvens, seguindo-se um furacão, o mais terrível experimentado em minha vida. Fazia tanta escuridão, que mal dava para ler: de todos os lados o céu era cortado de relâmpagos; as trovoadas se sucediam sem interrupção, o rugido do vento sul sobrepujava ainda o ruído do trovão por sua violência. Encontrava-me então na sala do meu hospedeiro, em companhia do pequeno Diogo. A janela e a porta estavam abertas, tudo quanto se achava sobre a mesa foi levado pelo vento; apressei-me em fechá-las, mas nesse instante, parte do telhado foi arrancado e, apesar da casa ser nova, um pedaço do muro, construído com barro e tijolo, foi derrubado pelo furacão e amontoado inteiramente por cima de algumas de minhas malas. A água caía torrencialmente dentro de casa e os fragmentos de telha voavam ao redor de mim. Já estava ferido na coxa e, temendo mais graves acidentes, fui proteger-me no quarto vizinho; mas o achei descoberto e igualmente inundado como a sala. Entrei num pequeno quarto vizinho, onde encontrei as mulheres da casa, comprimidas umas às outras, e que, tremendo, invocavam fervorosamente proteção aos céus. Ao fim de sete ou oito minutos, a violência do furacão havia diminuído um pouco; voltei à sala, trouxe as malas que estavam mais expostas à chuva, procurando resguardá-las no quarto adjacente." (¹)
Sabe-se, também, que em São Paulo, o ano de 1850 teve um infeliz começo, tudo por obra de um grande temporal que abalou a cidade:
"A 1º de janeiro de 1850 desabou sobre a cidade enorme tromba d'água motivando o arrombamento dos açudes e a inundação do vale do Anhangabaú. Verdadeiro dilúvio, durou seis horas, carregando a ponte do Açu, e arrasou diversas casas causando algumas vítimas." (²)
O terceiro e último evento devastador a que farei referência ocorreu em Resende (RJ), conforme relato de Augusto-Emílio Zaluar, e destruiu por completo o prédio novo que se fizera, então, para a Santa Casa de Misericórdia daquela localidade:
"O edifício atual não tem as dimensões e os cômodos que um estabelecimento desta ordem exige, sobretudo prestando os serviços que esta casa de caridade tem continuamente prestado. O edifício novo que se estava construindo para este fim, quando já se achava coberto com o telheiro, foi o ano passado destruído por um forte temporal que o desmoronou até os alicerces."(³)
Pois bem, como os senhores leitores podem ver, eventos climáticos extremos não são novidade. Mesmo em tempos em que a população era menor e, por consequência, menores eram também as vilas e cidades, os estragos podiam ser grandes. Não é, pois, necessário, que uma tempestade sobrevenha a uma metrópole, para que os danos sejam significativos.
Mas há ainda uma outra consideração que bem cabe aqui. Sim, tempestades sempre aconteceram - mas não com a frequência das da atualidade. O que deveras chama a atenção não é tanto a velocidade dos ventos, o volume das águas, o número de árvores que vêm abaixo e sim o fato de que tais fenômenos estão se tornando corriqueiros - pra falar a verdade, em certas épocas do ano acontecem quase todo dia. Corremos o risco de achar tudo isso "normal", em lugar de nos propormos a uma reflexão mais profunda sobre os rumos deste planeta que habitamos.
(1) SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 408.
(2) TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 281.
(3) ZALUAR, Augusto-Emílio. Peregrinação Pela Província de São Paulo 1860 - 1861. Rio de Janeiro / Paris: Garnier, 1862, p. 40.
(2) TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 281.
(3) ZALUAR, Augusto-Emílio. Peregrinação Pela Província de São Paulo 1860 - 1861. Rio de Janeiro / Paris: Garnier, 1862, p. 40.
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