quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Senhora de engenho

Engenhos coloniais eram comandados por homens, seus proprietários, conhecidos como senhores de engenho. Os Séculos XVI e XVII, com predominância deste último, foram tempo em que tais personagens mandavam e desmandavam, retendo, em suas mãos, o poder decisório que jorrava da força econômica. É inegável que, neste cenário, as mulheres tinham pouca oportunidade para protagonismo: viviam, como regra, trancafiadas em casa, saíam às ruas cobertas por mantilha e apenas para poucas atividades (como ir às igrejas, por exemplo), isso quando não eram mandadas pelos pais para algum convento ou retiro (¹). Distinções sociais também significavam distinções no modo de vida das mulheres, embora nunca significassem ampla liberdade e igualdade de direitos em relação aos homens.
Mas havia exceções. Uma delas, apenas para citar um exemplo, foi Leonor Soares, senhora de engenho na Bahia, de quem Gabriel Soares de Sousa escreveu: "À mão direita deste engenho de Sua Majestade está outro de dona Leonor Soares, mulher que foi de Simão da Gama de Andrade, o qual mói com uma ribeira de água (²) com grande aferida [...]." (³) 
Notem, leitores, que desse documento se infere que Leonor Soares somente se tornara senhora de engenho em razão do falecimento do marido. O fato de que agora fosse a proprietária talvez indique que não tinha filhos do sexo masculino em idade suficiente para o comando dos negócios da família. É pouco provável, porém, que no dia a dia, a vida dessa senhora fosse muito diferente da que tinham as mulheres de sua idade e condição social.

(1) Chegou a haver uma lei que proibia o envio de moças brasileiras para conventos em Portugal, porque se entendia que a terra tinha poucos colonizadores e era preciso que as jovens se casassem e tivessem filhos no Brasil, para aumentar a população. 
(2) Gabriel Soares foi senhor de engenho na Bahia por dezessete anos. Portanto, sabia reconhecer um bom engenho, como parece ser o caso desse, um engenho real, já que moía com a força da água.
(3) SOUSA, Gabriel Soares de Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 132.


2 comentários:

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