terça-feira, 17 de setembro de 2019

O culto ao Sol na Antiguidade


Se há um elemento recorrente nas crenças religiosas de muitos povos da Antiguidade, esse é, sem dúvida, a existência de alguma espécie de culto ao Sol. É certo, porém, que cada povo atribuía a seu deus-sol as características que mais valorizava. Exemplificando: em uma inscrição assíria encontrada em um templo em Nimrud, a divindade é descrita como "o deus-sol, devastador e desolador". Para quem conhece a fama dos assírios, não é preciso dar explicações.
Na teocracia egípcia, faraós apreciavam ser descritos como filhos de Ra, ainda que, eventualmente, a megalomania levasse os governantes a se declararem a própria encarnação da divindade... Além disso, recebiam culto como se, de fato, fossem deuses. Entre os povos da Mesopotâmia, Shamash, invocado também sob outras designações, foi reconhecido como deus-sol desde tempos remotos, algo próximo de 4000 a.C. Já veem os leitores que, se quisermos fazer uma lista de deuses identificados com o Sol, não faltará assunto, ainda que acabe a paciência para tantos nomes.
Plínio, o Velho (¹), o notável enciclopedista romano, tentou explicar assim a divinização do Sol: 
"Considerando tudo o que ele afeta, devemos crer que o Sol é a própria alma, ou, com mais exatidão, a mente do universo, a máxima divindade que governa a natureza. Ele provê o universo com luz e desfaz as trevas, ele escurece e ilumina as estrelas em seu repouso, ele comanda a marcha das estações segundo o costume da natureza e seu contínuo renascer a cada ano (²), ele desfaz a tristeza e tranquiliza as nuvens de tempestade que se formam na mente humana, sua luz alcança as demais estrelas [...]." (³)
É fato que no Século I os deuses já não desfrutavam do prestígio que tinham nos centênios precedentes, sendo possível, contudo, que Plínio quisesse contemporizar (⁴), não dando margem a alguma acusação de desrespeito para com a religião do Estado. Pelo que se infere de seus escritos, Plínio via a natureza como a grande e única divindade. Chama a atenção, porém, que ele assinalasse, corretamente, o efeito da luz solar sobre o humor dos seres vivos. Por conveniência ou desconhecimento, razão e superstição foram forçadas ao convívio. Não parece, sob esse aspecto, que a humanidade tenha mudado tanto nos dois últimos milênios.

(1) 23 d.C. - 79 d.C.
(2) Com a chegada da primavera.
(3) PLÍNIO, O VELHO. Naturalis historia Livro II. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) Fazendo, ao que parece, uma alusão ao Sol Invictus, divindade cultuada pelos soldados romanos.


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