quinta-feira, 20 de abril de 2017

Nos banquetes da Antiguidade

Curiosidades sobre as preferências de  comida e bebida entre povos antigos


Você beberia neste "cálice" grego? (¹)
1. Templos do mundo greco-romano eram locais de banquetes frequentes em honra dos deuses. Comida e bebida eram acompanhadas por música e dança, mas, como é óbvio, as estátuas de divindades, ainda que assistindo às festanças, não provavam coisa alguma. Não se pode dizer o mesmo quanto aos sacerdotes e devotos.

2. Em Roma estava disponível grande variedade de vinhos, de diversas procedências. Havia locais que vendiam vinho barato, de qualidade inferior, para a população pobre. Romanos de alta posição social eram consumidores de vinho superior, armazenado em ânforas, nas quais a data de produção e o tipo eram rigorosamente especificados.

3. Hesíodo, o poeta grego da Antiguidade, recomendou, em Os Trabalhos e os Dias: "Misture uma parte de vinho para três de água". Essa prática era comum, ao menos entre gregos e romanos, e o que variava era apenas a proporção dos dois líquidos. Em jantares importantes, escravos passavam junto às mesas com água quente e gelada, para atender às preferências dos convivas.

4. Os antigos egípcios atribuíam a invenção da cerveja ao deus Osíris. É quase desnecessário lembrar que cada povo que conhecia essa bebida também tinha um deus para responsabilizar por sua invenção. Portanto, leitores, todos já sabem, agora, por que é que, nos arredores do Nilo, havia tantas áreas nas quais a cevada era um cultivo importante.

5. Vida dura, a dos soldados romanos: entre eles, uma bebida muito usada nos acampamentos militares tinha o nome de oxycratum, e não era mais que uma reles mistura de água e vinagre.

6. De acordo com informação de Júlio César em De Bello Gallico, os antigos bretões se abstinham de comer gansos, lebres e galinhas.

7. Distribuições de trigo e outros cereais eram frequentes em Roma, como parte da chamada "política de pão e circo". Todavia, o imperador Valentiniano, que governou entre 364 e 375 d.C., foi além: mandou distribuir carne de porco entre a plebe.

8. É tradição que a carne de ganso era o alimento favorito de muitos faraós, e, no Egito, até mesmo gente que não pertencia à nobreza ou à elite sacerdotal costumava incluir essa ave na dieta, sempre que havia recursos para tanto.

9. Pavões faziam muito sucesso em Roma, mas não exclusivamente pela beleza de suas penas: quase não havia banquete em que não fosse servida carne de pavão. Ainda mais: ovos de pavão recheados eram tidos na conta de finíssima iguaria, somente encontrada nos festins dos mais ricos.

10. Afirma-se que o imperador Heliogábalo, que governou Roma entre 218 e 222 d.C., era grande apreciador de um prato preparado com cérebros de avestruz. Pode até ser exagero, mas era corrente na Antiguidade que, a cada festim imperial em que era oferecido o tal acepipe, umas seiscentas aves perdiam a cabeça, literalmente.

Cozinha romana em Pompeia
(ou o que restou dela) (²)
11. Os grandes cozinheiros de Roma eram especialistas em preparar novidades para deslumbrar os convidados de um banquete. Uma das surpresas acontecia quando os escravos encarregados cortavam um animal assado e, em seu interior, havia outro, e outro, e mais outro, cada um de uma espécie diferente.

12. Não só de carne exoticamente preparada se fazia um banquete em Roma - frutas raras também eram valorizadas. Damascos frescos, por exemplo, chegaram a ser vendidos por um denário a unidade, ou seja, pelo valor que era pago por um dia de trabalho (³). Mais tarde, quando o cultivo de damasco se difundiu na Península Itálica e a produção, por consequência, aumentou, os preços caíram, já que, perdendo a característica de novidade, não havia grande demanda por seu uso nos jantares das famílias abastadas.

(1) JAENNICKE, Friedrich. Geschichte der Keramik. Leipzig: J. J. Weber, 1900, p. 121.
(2) ENGELMANN, Richard. Pompeii. London: H. Grevel & Co., 1904, p. 82.
(3) Em se tratando de trabalhadores braçais.


Veja também:

2 comentários:

  1. Roma era pródiga em banquetes, sinal de poder e abastança. A coisa era de tal forma que, a fim de poderem usufruir de mais, e mais, os senhores metiam uma pena de pato na garganta para provocar o vómito.
    Roma, por aquele andar, acabou por cair. Hoje, à distância, acabamos por achar normal. Todos os impérios têm o seu declínio.

    Uma boa semana, Marta :)

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    1. Sim, até havia senadores que olhavam para tudo isso com horror, querendo que a população retornasse aos hábitos de sobriedade dos primeiros romanos. Não será preciso dizer que não foram muito ouvidos...
      A propósito, esse abandono dos valores originais de Roma é apontado como um dos fatores para o declínio do Império (um assunto que não demorará a aparecer aqui no blog).
      Obrigada por ler e comentar. Tenha uma ótima semana!

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