terça-feira, 11 de abril de 2017

O Colégio de São Paulo e o início da catequese de indígenas no Brasil

De acordo com José de Anchieta, o primeiro colégio dos jesuítas em São Paulo, aquele de 1554, era muito pequeno:
"Assim, alguns dos irmãos mandados para esta aldeia, que se chama Piratininga, chegamos a 25 de janeiro do ano do Senhor de 1554, e celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos a nossa casa." (¹)
Este relato aparece em uma carta escrita na própria Casa de São Paulo, provavelmente no final de setembro de 1554. Nesse mesmo documento, Anchieta forneceu outras informações sobre o lugar em que viviam:
"De janeiro até o presente tempo permanecemos, algumas vezes mais de vinte, em uma pobre casinha feita de barro e paus, coberta de palhas, tendo quatorze passos de comprimento e apenas dez de largura, onde estão ao mesmo tempo a escola, a enfermaria, o dormitório, o refeitório, a cozinha, a despensa; todavia, não invejamos as espaçosas habitações de que gozam em outras partes os nossos irmãos, pois N. S. Jesus Cristo se colocou em mais estreito lugar, e dignou-se nascer em pobre manjedoura, entre dois brutos animais, e morrer em altíssima cruz por nós." (²)
Por que a primitiva construção ocupada por jesuítas em São Paulo era tão pequena? Southey, em sua História do Brasil, argumentou, com acerto, que não era por falta de espaço para construir, mas errou ao supor que os missionários viviam assim como forma de proteção contra o frio. Ora, leitores, o Colégio de São Paulo foi fundado em janeiro de 1554 - portanto, em pleno verão - não havendo o menor sentido em acreditar que a mísera construção em que foi celebrada a primeira missa era para garantir que nenhum jesuíta ou indígena morresse congelado. Basta continuar a leitura da carta de Anchieta para compreender o que acontecia:
"Os índios por si mesmos edificaram para nosso uso esta casa; mandamos agora fazer outra algum tanto maior, cujos arquitetos seremos nós, com o suor do nosso rosto e o auxílio dos índios." (³)
Então, tudo se explica: o local da primeira missa, oficiada pelo padre Manuel de Paiva, foi erguido às pressas, para dar início ao trabalho de catequese na aldeiazinha de Piratininga; assim que as circunstâncias permitiram, fez-se nova construção. 
A partir de um documento datado de 1584, cuja redação também é atribuída a Anchieta, entende-se que, a princípio, a ideia era estabelecer um colégio para catecúmenos em São Vicente. Todavia, Manuel da Nóbrega julgou apropriado mudar a localização porque em Piratininga havia maior fartura de alimentos. 
Assim nasceram a cidade e o colégio de São Paulo, um por causa do outro. Como casa de jesuítas, não foi a primeira fundada em terras portuguesas na América, já que, nesse aspecto, a Cidade da Bahia (Salvador), como sede do Governo-Geral, teve a prioridade; mas, conforme o citado documento de 1584, foi em São Paulo de Piratininga que "se começou de propósito a conversão do Brasil, sendo esta a primeira igreja que se fez entre o gentio (⁴)." (⁵) 

(1) ANCHIETA, Pe. Joseph de S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 38.
(2) Ibid., p. 43.
(3) Ibid.
(4) O termo "gentio" era usado como sinônimo de indígena não catequizado.
(5) ANCHIETA, Pe. Joseph de S.J. Op. cit., p. 321.


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