quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O rapto de mulheres na Antiguidade

O rapto das sabinas é, provavelmente, dos eventos mais conhecidos da Antiguidade, mas, por certo, não é o único do tipo, quer histórico, quer lendário (ou ambas as coisas), cujo relato chegou até nós: os romanos, desesperados por não terem mulheres, organizaram uma festança e convidaram os sabinos que, desatentos, acabaram tendo suas filhas raptadas pelos espertos anfitriões.
Na Bíblia conta-se que, tendo os hebreus lutado entre si, deixaram poucos sobreviventes à tribo de Benjamim e, ainda por cima, juraram que ninguém permitiria que suas filhas viessem a casar-se com eles. Depois de "esfriar a cabeça", perceberam que, sendo assim, uma das famosas doze tribos acabaria extinta. Para evitar tão infeliz situação, adotaram, entre outras medidas, uma autorização para que, durante uma de suas festas, os benjamitas raptassem moças com as quais poderiam contrair matrimônio. E, como era rapto, não dependia de autorização dos pais.
O costume de raptar mulheres era, pois, nada raro na Antiguidade. Heródoto, na sua História, conta que as encrencas entre europeus e asiáticos tiveram início, nem mais e nem menos, por causa disso.
A coisa aconteceu assim: Um dia, os fenícios, os grandes comerciantes marítimos da Antiguidade, foram fazer suas vendas em Argos. Lá atraíram a atenção das mulheres, que ficaram encantadas com as mercadorias oferecidas (leitores do sexo masculino, cuidado com as ideias sexistas!). Como eu ia dizendo, fizeram os fenícios as vendas durante alguns dias e, entre as compradoras, estava a belíssima Io, filha do próprio rei de Argos. Ora, os fenícios, ao acabarem-se as vendas, tiveram a ideia de raptar as mulheres da localidade. A maioria, segundo Heródoto, conseguiu fugir deles, mas não a jovem Io, que foi conduzida ao Egito.
Não pararam aí as confusões. Para vingar-se do desaforo feito aos gregos, teriam os cretenses raptado Europa, filha do rei de Tiro. E, como "olho por olho" não era suficiente, outros raptos vieram, sempre na intenção da desforra.
O mais célebre de todos os raptos, que acabou em guerra sangrenta, teria, ainda de acordo com Heródoto, vindo em decorrência dessas estripulias. Falo, é claro, do rapto de Helena pelo filho de Príamo, Alexandre, que resultou na Guerra de Troia.
Nem sempre é fácil determinar com exatidão o quanto disso de fato ocorreu, o quanto foi exagero e acréscimo posterior de quem relatava os acontecimentos. O que fica de muito instrutivo, aqui, a quem se interessa por História, é um quadro bastante vívido da condição das mulheres, à vista dos povos do Mediterrâneo da Antiguidade, que se depreende dessas narrativas, até porque, para enlouquecer as leitoras deste blog, o grande Heródoto tinha a capacidade de, em suas considerações, asseverar que, se as mulheres raptadas de fato não quisessem, nunca teriam sido roubadas da casa de seus respectivos pais ou maridos...


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