quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O início do escambo entre europeus e indígenas no Brasil

Para nós parece a coisa mais natural que, quando queremos adquirir qualquer bem ou serviço, façamos o pagamento com o uso de moeda corrente, que pode variar, de acordo com o lugar onde se vive, mas cujo princípio é exatamente o mesmo, o de intermediário para facilitar as trocas.
Houve, entretanto - e há, ainda - sociedades nas quais a moeda, como a entendemos, era coisa inexistente. Isso valia para os povos indígenas do Brasil que viviam nas áreas litorâneas, quando da chegada dos portugueses, de modo que as relações comerciais que se estabeleceram foram, de saída, baseadas em escambo, ou seja, a troca direta de uma mercadoria por outra, sem o uso de moeda, mesmo porque, se os povos indígenas tivessem alguma moeda, seria pouco provável o estabelecimento de algum padrão de equivalência (câmbio) em relação ao dinheiro usado pelos portugueses.
O "comércio" entre portugueses e índios começou bem cedo. Mal chegada a esquadra de Cabral, houve, a crer no relato de Pero Vaz de Caminha, uma autêntica troca de presentes entre nativos e visitantes:
"Levava Nicolau Coelho cascavéis (¹) e manilhas. E a uns dava uma cascavel, a outros uma manilha [...]. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, ou de qualquer coisa que a gente lhes queria dar."
Em pouco tempo, entretanto, essa troca amistosa iria transformar-se em negócio sério, à medida que os europeus (não apenas portugueses) percebiam que era possível obter grande lucro com o escambo, fornecendo os índios mercadorias de alto preço nos mercados da Europa, em troca de objetos que, para os navegadores, tinham bem pouco valor. Era o caso da troca, por exemplo, de madeiras nobres por facas e tesouras, como se vê no Livro da Nau Bretoa, datado de 1511, ressalvando a autoridade real que de nenhum modo de fornecessem quaisquer armas aos nativos:
"Notificareis isso mesmo a toda a dita companhia que não resgate nem venda e nem troque com a gente da dita terra nenhumas armas de nenhuma sorte, que sejam punhais nem outras nenhumas que são defesas (²) pelo Santo Padre e por El-Rei Nosso Senhor, e poderão levar facas e tesouras como sempre levaram."

(1) Guizos.
(2) Isto é, proibidas.


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