Ao contrário do que ocorreu em muitas cidades coloniais da América Espanhola, com seus arruamentos deliberadamente retilíneos (ou quase...), algumas cidades coloniais brasileiras eram, sob esse aspecto, uma autêntica imagem do caos. Ainda hoje, caminhar pelas que foram preservadas sem perder o rumo, pode ser um pequeno desafio.
Quando o uso de GPS não era muito comum, eu tinha minha estratégia particular: identificava a torre da igreja mais próxima, já que nelas, igrejas nunca faltam, e tomava-a como meu ponto de partida. Daí, caminhava quanto queria, sem maiores preocupações e, quando decidia que era hora de voltar, apenas levantava a cabeça, procurava a torre da igreja que havia assinalado no início e seguia na direção dela. Geralmente funcionava. Mas antes que algum leitor resolva testar o método, advirto que o fará somente por sua conta e risco. Dá certo para mim - não significa que funcionará para todo mundo.
As ruas das cidades coloniais recebiam nomes sem muito critério, quase ao acaso. Algumas eram chamadas pela igreja de onde partiam, outras eram a rua de fulano ou sicrano (que lá moravam), ou ainda a rua do pedreiro, do ferreiro, o que ia para o plural se os profissionais se agrupassem na localidade. Outras denominações eram mais que curiosas, chegavam a ser humorísticas, para dizer o mínimo.
O crescimento urbano e o estabelecimento de instâncias de governo mais definidas contribuíram para, aos poucos, colocar alguma ordem na bagunça da nomenclatura das ruas e praças públicas. Nos dias do império, quase toda localidade de alguma importância tinha sua Rua do Imperador, frequentemente uma Rua da Imperatriz e, por vezes, uma Rua da Princesa (fora casos específicos, referia-se à princesa Isabel). Nomes de figuras importantes entre titulares e políticos do Império eram também usuais. Pois bem, o advento da República levou à quase completa desaparição dessas denominações. Com a nova moda, muita rua do Imperador virou Quinze de Novembro e, mais tarde, outras receberam nomes de líderes republicanos como Marechal Deodoro ou Benjamin Constant, por exemplo. Afinal, era importante deixar evidente a adesão ao novo regime.
Assim, andar pelas ruas de uma cidade, observando os nomes indicados nas placas de ruas, pode revelar muito sobre seu passado, se é cidade antiga ou mais recente, se preservou antigas denominações das vias públicas ou se novos acontecimentos trouxeram, também, novos nomes, e por aí vai. E se você leitor, conhece algum nome curioso, diferente, exótico até, em alguma rua de sua cidade, conte para mim e para os demais leitores, deixando um comentário nesta postagem!
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.