quinta-feira, 28 de junho de 2012

A roda dos expostos

Infelizmente têm nascido neste nosso planetinha, ao longo dos séculos, pelos mais diversos motivos, muitas crianças não desejadas. As diferentes sociedades têm lidado com tal problema de maneiras distintas e, uma das "soluções" adotadas, foi a roda dos expostos. Que era ela?
Há uma excelente descrição feita por Saint-Hilaire, datando do início da segunda década do século XIX:
"Desde que os portugueses estão em Montevidéu, abriram no hospital um estabelecimento para as crianças abandonadas. Como em todas as casas desses gênero, elas são expostas em uma roda, aonde passam para o interior da casa; em seguida, confiadas às amas; destas, algumas as amamentam em casa e outras no próprio hospital. Há três anos que este estabelecimento existe. No primeiro ano, foram trazidas quarenta crianças, mas depois, as exposições diminuíram. A sala que abriga as crianças é separada por dois pequenos pátios da sala onde estão os doentes. Entretanto, parece-me que as crianças ainda se acham muito perto destes, para que não seja infectado o ar de miasmas." (¹)
Deve-se explicar que, na Europa, as rodas dos expostos não eram novidade; em Portugal, estavam previstas nas Ordenações do Reino e vinculadas às Irmandades de Misericórdia, o que também veio a ocorrer no Brasil, onde as rodas começaram a ser estabelecidas no século XVIII, embora a de São Paulo (²) só tenha sido criada no século XIX, sendo presidente da Província o Visconde de Congonhas do Campo, que exerceu seu mandato entre 1824 e 1827. Portanto, após a Independência.

(1) SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Senado Federal, 2002, p. 198.
(2) Veja, sobre essa questão: TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 267.


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O Asilo de Expostos (*) em São Paulo no Ano de 1919

Em sua edição de 1º de outubro de 1919, a revista paulistana A Cigarra trouxe, em matéria de página inteira, a notícia de uma tômbola que seria realizada em benefício do Asilo de Expostos; incluíam-se duas fotos, que podem ser vistas abaixo:


A  legenda desta primeira foto diz: "Um grupo de asilados antes da recente epidemia de gripe no Asilo dos Expostos. Veem-se na fotografia, além de cinco dedicadas Irmãs de Caridade, o médico Dr. Sinésio Rangel Pestana e o infatigável mordomo, Dr. Sampaio Viana". (**)
Perguntamo-nos: O que teria acontecido durante a epidemia de gripe? Teriam morrido muitas crianças? Ou muitos meninos e meninas da cidade ficaram órfãos?


Já a segunda foto que aparecia na matéria citada trazia esta legenda: "Neste grupo veem-se numerosas crianças que, por falta de espaço no Asilo dos Expostos, se acham entregues aos cuidados de amas contratadas." (**)
A Cigarra concluía o assunto com a observação de que ingressos para a tômbola estavam disponíveis, de modo que as famílias de São Paulo tinham a oportunidade de auxiliar na manutenção do Asilo.

(*) Um "exposto" era qualquer criança que não tinha o amparo de sua própria família, e não necessariamente alguém abandonado na roda dos expostos. Podia ser um órfão, por exemplo.
(**) A CIGARRA, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919. As imagens foram editadas para facilitar a visualização neste blog.

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