domingo, 15 de abril de 2012

A visão da costa do Brasil, por viajantes de antigamente

"Neste dia", escreveu Pero Vaz de Caminha, referindo-se à data de 22 de abril do ano de 1500, "a horas de véspera, houvemos vista de terra. Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo, e doutras serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã, com grandes arvoredos. Ao monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à Terra, a Terra de Vera Cruz". Embora seja perfeitamente possível que Cabral e seus companheiros de expedição não tenham sido os primeiros europeus, talvez sequer os primeiros portugueses que puseram os pés em terras brasileiras, é esse, no entanto, o primeiro relato formal que temos, ao que até agora se conhece, descrevendo o avistar do litoral brasileiro.
Da segunda metade do século XVII temos o registro feito pelo missionário Padre Simão de Vasconcelos, segundo o qual a impressão de navegadores e cosmógrafos a respeito do aspecto da costa do Brasil era esta:
"Quanto à vista exterior aos que vêm de mar em fora, depuseram aqueles capitães e cosmógrafos que não viram coisa igual no universo todo à perspectiva desta nova terra, porque ao longo parece uma glória o avultar dos montes e serranias, com tal compostura e altura que representam formar muito para ver, e sobem, parece, à região segunda do ar, levando consigo os olhos e os corações ao céu. À meia vista começa a aparecer o alegre dos bosques, campos e arvoredos, verdes sempre, e sempre aprazíveis. Mais ao perto, alvejam as praias formosas, e vão logo aparecendo nelas uma imensidade de portos, barras, enseadas, rios e ribeiras despenhadas, e com tão grande variedade, que é um espanto da natureza. De tudo disseram alguma coisa, que tudo não lhes era possível." (¹)
Infelizmente, há pouquíssimas imagens dos primeiros tempos coloniais, e o pouco que existe é grandemente devido aos artistas holandeses que andaram pelo Brasil à época do governo de Nassau. Somente no século XIX, quando a paisagem, ao menos na faixa litorânea, já havia sofrido importantes modificações, é que houve maior preocupação em fixar, através de desenhos, aquarelas ou gravuras, por exemplo, o que se via em terras do Brasil. Embora tardias, essas imagens são significativas por nos permitirem um estudo, por comparação, de transformações posteriores resultantes do processo de ocupação do território. Nas últimas décadas do século XIX os meios informativos tornaram-se mais abundantes, à medida que a fotografia passou a integrar o arsenal de  recursos disponíveis  para o registro de acontecimentos e lugares. Assim justapostos, desenhos, aquarelas e fotografias nos permitem analisar as graduais alterações na paisagem brasileira, principalmente em áreas de grande urbanização.
Para que se tenha ideia do que isso significa, estão a seguir três imagens, todas da primeira metade do século XIX (editadas para melhor visualização), conforme o registro por três diferentes artistas.

Vista do litoral da Bahia, por Rugendas (²)

Vista do alto do Corcovado, Rio de Janeiro, por Thomas Ender (³)

Vista da entrada da baía do Rio de Janeiro, por Debret (⁴)

(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de. Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1668, pp. 28 e 29.
(2) RUGENDAS, Moritz. Malerische Reise in Brasilien. Paris: Engelmann, 1835. 
O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(4) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2. Paris: Firmin Didot Frères, 1835. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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